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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Uma banda revista e melhorada

No disco anterior, "Show Your Bones" (2006), os Yeah Yeah Yeahs trocaram as voltas a quem deles esperava mais um concentrado de tensão, atitude e pujança como o que tinham oferecido no disco de estreia, "Fever to Tell" (2003).

 

Em vez de dispararem canções curtas, directas e ensopadas em suor, surpreenderam com atmosferas mais agridoces, melancólicas e depuradas, perdendo em energia o que ganharam em maturidade e substituindo a herança do punk pela do indie rock.

 

Em "It’s Blitz!", o seu terceiro álbum, não apresentam um corte tão radical mas mantêm-se mais próximos do registo anterior do que do sentido de urgência dos primeiros dias.

 

 

Há, ainda assim, espaço para a novidade, talvez encorajada pela produção de David Sitek (que divide os créditos com Nick Launay), mentor dos TV on the Radio que recentemente assinou também colaborações com as Telepathe, Foals ou Scarlett Johansson.

 

Entre as diferenças do disco face aos antecessores ressalta o evidente reforço electrónico das canções, à semelhança do que tem ocorrido com outras bandas onde o rock aceitou contaminações comparáveis - caso dos Kaiser Chiefs, Franz Ferdinand, Bloc Party ou Long Blondes.

 

Mas de todos estes, os Yeah Yeah Yeahs são talvez os que incorporam esses elementos de forma mais conseguida, onde a electrónica não é usada nem como mero adorno nem como motor dos acontecimentos, num saudável meio-termo que ajuda a tornar "It's Blitz!" no seu álbum mais equilibrado e ecléctico.

 

 

Explorando como nunca a sensibilidade pop que sempre emanaram, mesmo nos momentos mais viscerais, propõem um disco por vezes mais dançável mas não necessariamente ligeiro.

 

Karen O continua a ser uma das vocalistas mais carismáticas dos anos 00, e aqui o seu estatuto sai reforçado ao mergulhar em episódios de maior vulnerabilidade, ainda que não deixe de apresentar outros de aura agreste q.b..

A guitarra de Nick Zinner origina, mais uma vez, belos momentos de intensidade, embora agora não pelo choque directo mas no desenho de cenografias mais esparsas.

E a bateria de Brian Chase consolida, de forma segura, uma arquitectura rítmica que os Yeah Yeah Yeahs têm tornado mais apurada a cada álbum.

 

Sedutor e hedonista mas também emotivo e acolhedor, "It's Blitz!" é um sólido conjunto de canções, e se algumas nem são muito imediatas aos poucos acabam por se impor.

 

 

O primeiro single, "Zero", a abrir o disco, é um óptimo cartão de apresentação, eufórico e contagiante, que ainda assim é superado pela demolidora "Heads Will Roll", outro arrebatador encontro de guitarras e sintetizadores onde Karen O obriga tudo e todos a dançar. E como a canção é tão viciante, é difícil não aderir às suas palavras de ordem.

 

No extremo oposto, "Skeletons" ou "Runaway" optam por atmosferas mais intospectivas e a espaços dolentes e "Soft Shock" ou "Dragon Queen" são irresistíveis aproximações a uma synth pop saltitante.

Já "Dull Life" ou "Shame and Fortune" recordam os primeiros tempos da banda, numa vertente mais musculada, e "Hysteric" é uma bela balada primaveril que começa onde "Cheated Hearts" (a melhor canção do disco anterior) acabou.

 

Desta diversidade que se interliga de forma espontânea nasce um dos álbuns mais cativantes de 2009, e se continuarem a superar-se de disco para disco é legítimo esperar que nos próximo os Yeah Yeah Yeahs apresentem a sua obra-prima. Em duas ou três ocasiões "It's Blitz!" já anda lá bem perto.

 

 

 

Yeah Yeah Yeahs - "Heads Will Roll (Live in Jools Holland)"

 

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