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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

A mulher, os assassinos e o bilionário

 

 

Tem título de filme série-b ou mesmo de terror, e embora esteja mais próximo do drama não deixa de ser mais desconfortável, angustiante e até assustador do que alguns exemplos desses géneros.

 

"A Mulher Sem Cabeça", terceira longa-metragem da argentina Lucrecia Martel, dá continuidade ao seu seu cinema atmosférico e intrigante, aqui centrando-se numa mulher cujo quotidiano se torna num intrincado novelo de suspense após um acidente automóvel.

 

Pelo menos até metade do filme, a maioria dos espectadores arrisca-se a ficar tão descoordenada como a protagonista, e Martel volta a revelar habilidade para fazer das suas obras atípicas experiências sensoriais.

Também como nos trabalhos anteriores, a tensão da intriga principal tem nas entrelinhas muitas outras (familiares, sociais, sexuais), e se ainda não é desta que Martel se livra de um certo hermetismo, não há muitos cineastas recentes que possam orgulhar-se de um olhar tão singular.

 

 

 

Dificilmente se adivinharia que "Killshot – Alvo a Abater" é da autoria de John Madden, tendo em conta que o realizador britânico tem no currículo títulos pomposos mas ocos como "A Paixão de Shakespeare" ou "O Capitão Corelli", nos antípodas deste thriller modesto e eficaz.

 

À semelhança do mais interessante "Proof — Entre o Génio e a Loucura", aqui o maior trunfo volta a ser o elenco, que mesmo não justificando grandes distinções sustenta bem esta adaptação do policial homónimo de Elmore Leonard.

Até surpreende, de resto, que muitos dos que incensaram Mickey Rourke em "O Wrestler" ignorem agora o seu desempenho aqui, nem melhor nem pior do que o do sobrevaloriado drama de Darren Aronofsky.

Mais inesperado, um Joseph Gordon-Levitt em modo histriónico adequa-se ao que a personagem pede (e ao contrário de Rourke, alarga o seu espectro interpretativo) e Diane Lane e Thomas Jane cumprem como casal à beira da ruptura (e perseguido pela dupla de assassinos).

 

"Killshot – Alvo a Abater" ganharia com um pouco mais de personalidade, mas Madden aposta num apropriado estilo seco e lacónico e concede densidade suficiente a uma história que se segue com interesse (e que uma canção como "Monkey", dos Low, contribui para que arranque muito bem).

 

 

 

Talvez não merecesse tamanha atenção na última entrega dos Óscares, mas isso não implica que "Quem Quer Ser Bilionário?" não seja um belo filme, e o melhor de Danny Boyle desde o marcante "Trainspotting".

 

Óptima conjugação de fábula agridoce a la "O Fabuloso Destino de Amélie" com a crueza e esperança de "Cidade de Deus", resulta num feel-good movie contagiante, que ainda assim consegue ser dramático sem cair em miserabilismos.

 

É também exemplo de uma história sem grandes novidades contada e forma imaginativa, com Boyle a provar que é um esteta de excepção - montagem, fotografia e banda-sonora inatacáveis - sem deixar que uma embalagem impressionante se imponha às personagens - muito bem defendidas por um obstinado Dev Patel, pela simpatia irradiante de Freida Pinto e por um convincente elenco infantil.

 

Há, a espaços, algumas cenas dispensáveis, em particular uma de suposto humor escatológico logo nos momentos iniciais, mas nem isso nem um desenlace de uma previsibilidade gritante - e ainda bem, já que aqui a fantasia impõe-se ao realismo - retiram a boa impressão e o genuíno sorriso que "Quem Quer Ser Bilionário?" deixa no final (onde até a inenarrável dança do genérico final se torna tolerável).

 

 

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