O deserto, a floresta e a cidade
Depois de "Open Range — A Céu Aberto", de Kevin Costner, ou "O Comboio das 3 e 10", de James Mangold, Hollywood continua a revisitar o western pontualmente.
"Appaloosa", segunda experiência de Ed Harris como realizador, é uma tentativa bem-sucedida, embora modesta, que oferece um interessante estudo de personagens ao focar a relação entre um xerife (o próprio Harris) e o seu ajudante (um contido e excelente Viggo Mortensen).
Nas cenas em que se concentra na dupla, o filme é especialmente convincente, conseguindo explorar com sensibilidade o companheirismo inabalável dos dois vigilantes.
Já a entrada em cena de um problemático interesse amoroso (Renée Zellweger, escolha algo duvidosa) e mesmo o vilão de serviço (Jeremy Irons numa personagem demasiado caricatural) não resultam tão bem, impedindo que "Appaloosa" seja um filme tão forte como as sequências com os protagonistas.
Ainda assim, quem procurar um regresso ao venho oeste capaz de equilibrar aventura e drama de forma aliciante, mesmo que sem inventar muito, esta proposta acerta mais do que falha, e é um passo seguro para Harris depois da estreia na realização com "Pollock".
Um dos mais eficazes filmes de terror dos últimos tempos, "O Lago Perfeito" não conquista tanto pela sua originalidade mas sobretudo pelo apreciável savoir faire do britânico James Watkins, incomum numa primeira longa-metragem.
Hábil na construção e gestão de um suspense de cortar à faca - literalmente, ou não fosse esta uma obra sanguinolenta como poucas -, serve hora e meia de pânico ao jovem casal protagonista, perseguido por um grupo de adolescentes em busca de vingança, e dispara essa atmosfera de tensão, imprevisibilidade e medo para lá do ecrã.
Com piscadelas de olho a "Fim-de-Semana Alucinante", de John Boorman, ao transformar os corpos de Kelly Reilly e Michael Fassbender em cabides de sangue, suor e lama, torna uma floresta aparentemente idílica num cenário aterrador onde passa a valer quase tudo na luta pela sobrevivência.
Num papel atípico, na pele de uma pacata educadora de infãncia forçada a enfrentar o seu lado mais visceral, Reilly confirma-se como uma das actrizes inglesas mais confiáveis da sua geração, que dificilmente sairá da mente dos espectadores tendo em conta um desenlace tão angustiante - e tão apropriado.
Era no mínimo arriscado transpor para o grande ecrã uma das graphic novels mais aclamadas de sempre, mas Zack Snyder não só o fez como o fez bem.
Se há crítica a apontar à adaptação de "Watchmen - Os Guardiões" é sobretudo a fidelidade talvez excessiva ao material de origem de Alan Moore e Dave Gibbons (excepto no desenlace), o que impede que o realizador esboce uma abordagem própria a este universo.
Isso não invalida, contudo, que este seja um dos filmes de super-heróis (aqui nem tão super nem tão heróis) recentes, e Snyder não deixa de ter mérito por conseguir concentrar o essencial de uma obra tão complexa em apenas duas horas (o que ficou por contar está guardado para a edição em DVD), por apostar num elenco discreto mas talentoso ou por injectar a sua habitual energia visual na maioria das sequências (menos exibicionistas e desregradas do que as de "300").
O arranque do filme é um dos exemplos mais fortes (assim como dos mais memoráveis dos últimos anos), e aliado a uma montagem precisa e a uma banda-sonora inatacável dá início a uma saga que, mesmo não tendo aqui o impacto que deixou na nona arte, prova que estes Watchmen também devem ser vigiados com atenção.