Comédia, drama e romance
Embora "És o Maior, Meu!" não inclua Judd Apatow na sua ficha técnica, as marcas do realizador/argumentista/produtor são evidentes, não só porque os dois protagonistas - Paul Rudd e Jason Segel - são habituais nas suas obras mas ainda porque a temática - a amizade masculina - não o é menos.
A terceira longa-metragem de John Hamburg é, no entanto, uma comédia menos desregrada do que "Virgem aos 40 Anos" ou "Super Baldas", e ainda bem, já que assim contorna as tentativas de irreverência (muitas vezes inconsequentes) desses e de outros filmes sem deixar de se guiar por um humor contagiante.
Ao contrário do que o título em português sugere, "És o Maior, Meu!" não se resume a um concentrado de gags de gosto duvidoso, antes recorre à comédia para contar uma história assente em personagens bem trabalhadas, com uma dimensão emocional inesperada tendo em conta que Hamburg assinou os argumentos de "Uns Compadres do Pior" ou "Zoolander".
Partido de uma premissa simples - um jovem noivo com poucos amigos tenta encontrar um padrinho de casamento -, este é um buddy movie que convence ainda pela óptima química entre os dois protagonistas (e é difícil não sentir uma empatia imediata pela personagem de Rudd), devidamente auxiliada por um também confiável elenco de secundários.
O resultado são duas horas de entretenimento despretensioso, mas inteligente e comovente.
Sem dúvida o mais belo filme de Eastwood dos últimos anos, "Gran Torino" é também dos mais simples e modestos, o que em nada impede que seja um triunfo a todos os níveis (ou quase todos, já que alguns actores secundários desequilibram duas ou três cenas).
Uma história que facilmente poderia confundir-se com a de um telefilme esquemático para encher programação resulta num impressionante olhar sobre a confiança, a tolerância, o envelhecimento ou a redenção, com Clint (aqui Walt) na pele de uma personagem que é quase um best of das que interpretou antes: sisuda, circunspecta, desconfiada e deliciosamente ranzinza (e motor de irresistíveis situações de auto-paródia).
Mas apesar de algumas características comuns, este Walt está já longe de um Dirty Harry, e o passar dos anos faz a diferença num filme com tons de requiem, frequentemente sóbrio e contemplativo, que evita nostalgias mas não deixa de transparecer um sentido desencanto em relação ao presente (sobretudo nos momentos com a família do protagonista).
Há, ainda assim, espaço para a esperança, com origem em amizades improváveis que conduzem a um desenlace pouco óbvio e também por isso memorável - e que prova que o filme é muito mais do que uma revisitação da filmografia do seu autor. Já estreou há uns meses, mas o epíteto de "filme do ano" continua a fazer sentido.
Nada contra uma adaptação livre da mais emblemática obra de Camilo Castelo Branco que centre a acção nos dias de hoje. A forma como é feita é que já pode deixar, contudo, algumas dúvidas, e infelizmente é esse o caso de "Um Amor de Perdição".
Se é verdade que a realização de Mário Barroso tem sequências com algum fulgor, em muitas outras resvala para os piores traços da mais vulgar ficção televisiva juvenil, com cenas onde é difícil não sentir algum embaraço - as de agressão são particularmente amadoras.
Quase sempre inverosímil, não tanto pelo anacronismo de certas situações mas pela própria falta de chama do romance - o par central apaixona-se porque o argumento assim o pede -, o filme peca ainda por subenredos pouco ou nada desenvolvidos (para quê as sugestões de incesto entre a mãe e o irmão do protagonista?) e por uma direcção de actores irregular.
Tomás Alves, que carrega o filme às costas, é uma boa revelação, capaz de impor uma presença intensa e carismática, e é pena que a destinatária do seu amor seja tão (deliberadamente) apagada e desperdiçada como Ana Moreira, que se limita a repetir um cliché de si própria.
A redundante narração em off em nada contribui para compensar tantos desequilíbrios, o que infelizmente não eleva o filme acima de uma tentativa meritória mas frustrante.