Tudo o que é bom acaba depressa
Editaram um dos discos mais refrescantes do ano e ontem as Telepathe foram a Lisboa apresentá-lo numa muito concorrida Galeria Zé dos Bois - e nada refrescante, com um calor difícil de aguentar.
Mas quem suportou as altas temperaturas - e foram muitos, num concerto esgotado - saiu recompensado com alguma da pop mais inventiva do momento.
Acolhidas por uma uma pequena multidão expectante, as nova-iorquinas Melissa Livaudais e Busy Gangnes entraram discretamente em palco e mantiveram uma postura recatada ao longo de todo o concerto.
A música das Telepathe, essa, mostrou-se mais versátil, e passou por quase todo o seu disco de estreia, "Dance Mother", um belo exemplo de pop imprevisível e desafiante, que por vezes causa estranheza sem nunca abdicar de uma aura envolvente.
Quem não as conhecesse, dificilmente diria que duas jovens de aspecto frágil e delicado conseguiriam desenhar vendavais sonoros como "So Fine", single perfeito a fechar em alta uma actuação que apenas pecou por ter sido tão curta.
Com pouco mais de meia hora e sem direito a encore - muito solicitado por um público que aplaudiu e gritou insistentemente -, pelo menos o concerto compensou em qualidade o que não ofereceu na duração.
Ancoradas em teclados intrigantes, fulcrais para reforçar a atmosfera fantasmagórica de algumas canções, assim como na bateria, que delineou um compasso rítmico em crescendo, as Telepathe embrulharam estes instrumentos em programações electrónicas e serviram um híbrido que tanto convidou à abstracção como à dança.
A sucessão de temas fez-se sem quaisquer pausas, e mesmo os fugazes agradecimentos de Gangnes não quebraram um ritmo que se mostrou sempre hipnótico.
A ajudar à consistência, as canções não se limitaram a replicar o que se ouve no disco e conseguiram surpreender com diferenças subtis, caso da percussão mais vincada em "Lights Go Down" ou da vertente mais borbulhante de "Michael" (a tal onde as meninas de ar tímido soltam as garras e cantam "My greatest dream would be to destroy you" ou "I wanna watch you suffer violently").
Embora curta, a actuação veio comprovar que as Telepathe sabem defender um óptimo álbum com uma actuação que não lhe fica atrás. Mas infelizmente também reforçou a máxima de que tudo o que é bom acaba depressa...