Estreia da semana: "Sinédoque, Nova Iorque"
A estreia na realização do argumentista de "Queres Ser John Malkovich?" e "Inadaptado", de Spike Jonze, ou do belíssimo "O Despertar da Mente", de Michel Gondry, deixava no mínimo alguma curiosidade.
"Sinédoque, Nova Iorque", a primeira longa-metragem assinada por Charlie Kaufman, não está, infelizmente, à altura de nenhum desses filmes (também não seria tarefa fácil), mas ainda tem as doses de criatividade e estranheza habituais nas histórias do seu realizador.
Este olhar sobre grande parte da vida de um encenador nova-iorquino, que passa vários anos a preparar uma peça de fôlego épico enquanto lida com vários problemas conjugais e de saúde, desenvolve-se sempre de forma imprevisível - como seria de esperar tendo em conta o autor -, ainda que as suas mais de duas horas sejam excessivas e acusem desequilíbrios.
Há muitas boas ideias num filme ambicioso como poucos, o resultado é que não as estrutura da melhor forma, sobretudo durante a segunda metade onde, mais do que dominado pela comédia negra, o filme se torna num concentrado de pessimismo algo forçado e cansativo.
Mas se o o argumento tem altos e baixos, o elenco mantém-se sempre próximo da excelência, tanto o protagonista Philip Seymour Hoffman como uma impressionante constelação de estrelas femininas do cinema independente - andam por aqui Catherine Keener, Emily Watson, Samantha Morton, Jennifer Jason Leigh, Michelle Williams ou Hope Davis, e todas têm espaço para brilhar. É também por elas que vale a pena não deixar passar este filme imperfeito mas corajoso.
Outras estreias:
"4 Copas", de Manuel Mozos
"ABC da Sedução", de Robert Luketic
"Blood: O Último Vampiro", de Chris Nahon
"Passageiros", de Rodrigo García
e-Cinema: Charlie Kaufman, seduções e a chegada a Oz