Estreia da semana: "Sacanas sem Lei"
O grupo de militares judeus cujo nome é também o título do novo filme de Quentin Tarantino, "Sacanas sem Lei", acaba por nem ser o elemento central de mais uma experiência delirante do cineasta de "Pulp Fiction" ou "Kill Bill".
E ainda bem, porque mesmo que este esquadrão de caça (e mata) nazis numa França ocupada pela Alemanha gere algumas personagens com piada - a melhor talvez seja o já icónico boneco de Brad Pitt -, todas ficam aquém daquelas interpretadas por Christoph Waltz e Mélanie Laurent, talvez as duas grandes surpresas do filme.
Ele, actor austríaco veterano mas até aqui confinado a papés secundários, consegue ser magnético, hilariante e revoltante na pele de um tenente nazi - e uma das personagens mais tagarelas de Tarantino, o que por si só já seria digno de nota.
Ela, jovem actriz francesa e uma excelente revelação, concede a dose certa de intensidade, mistério e determinação a Shosanna, judia e a única sobrevivente de um massacre à sua família - e que, como muitas figuras femininas do universo do realizador, não descansa enquanto não se vinga.
Mas "Sacanas sem Lei" é mais do que uma história de vingança, já que esta é apenas uma desculpa para Tarantino edificar aqui uma ode ao cinema, tanto ao que tem de romântico como de mais visceral.
O resultado não chega a atingir o brilhantismo de alguns dos seus títulos anteriores, o que também não é grave quando, ao longo de mais de duas horas e meia, o filme saltita entre um humor certeiro e uma tensão de cortar à faca com um savoir faire irrepreensível.
Os diálogos, idiossincráticos como sempre, geram algumas sequências de antologia - a inicial ou a do encontro no bar -, embora a narrativa ainda contemple litros de sangue, suor e lágrimas para quem espera encontrar aqui um filme de guerra - devidamente estilhaçado, desconstruído e embrulhado num entretenimento de topo.
Outras estreias:
"A Minha Vida em Ruínas", de Donald Petrie
"Ponyo à Beira-Mar", de Hayao Miyazaki
e-Cinema: Quentin Tarantino e o seu bando de sacanas