O náufrago
"Paraíso a Oeste" podia ter sido um grande filme, mas o resultado é quase sempre mais discreto do que os objectivos que tenta atingir. Ancorada nas peripécias de um imigrante ilegal que mergulha no mar Egeu quando o barco onde viaja é interceptado pelas autoridades, a narrativa segue o refúgio do protagonista numa estância turística de luxo e noutros locais por onde passa durante uma viagem até Paris.
Combinação de road movie com traços de comédia burlesca e metáfora social, a mais recente longa-metragem de Costa-Gavras vê-se sempre com curiosidade ao longo das suas duas horas, embora acabe por ficar aquém das suas ambiciosas aspirações.
O principal problema é a falta de subtileza desta visão das assimetrias sociais na Europa, vincada por maniqueísmos e simbolismos demasiado óbvios que servem mal uma questão tão complexa e na ordem do dia como a da imigração.
Por vezes certeira, embora outras tantas feita a preto-e-branco, esta abordagem não impede, ainda assim, que "Paraíso a Oeste" funcione francamente bem nas suas outras vertentes. O veterano realizador grego ainda não perdeu a mão e não só gera alguns bons momentos de suspense como sabe tirar proveito do carisma (e invejável fotogenia) de Riccardo Scamarcio, um dos actores-revelação de "O Meu Irmão é Filho Único" - que aqui convence num registo diferente desse primeiro contacto e é determinante para que o filme, apesar de tudo, resulte caso as expectativas sejam moderadas.
"Paraíso a Oeste" é um dos filmes da 10ª Festa do Cinema Francês e será reexibido no Porto e em Coimbra (locais e horários aqui)