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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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Pop de grande fôlego

"Lungs" é um título apropriado para o disco de estreia de Florence and The Machine, ou não fosse este conjunto de canções comandado por uma voz possante, onde a força dos pulmões será uma boa aliada nos momentos de maior fôlego interpretativo.

 

E há muitos episódios assim, já que a combinação da voz de Florence Welch com os instrumentos a cargo dos músicos que a acompanham, The Machine, gera quase sempre temas onde uma forte carga épica é o ponto de chegada.

 

 

No ano passado, o single "Kiss With a Fist" deixou muitos expectantes quanto aos próximos passos desta jovem cantautora britânica, e felizmente esse tema acaba por nem ser do melhor que o álbum tem para oferecer.

 

A linearidade dessa canção destoa num alinhamento bem mais desafiante e inspirado, onde Florence está mais próxima da herança de Kate Bush, Björk ou PJ Harvey do que de outras revelações brit como Kate Nash ou Amy Macdonald.

 

Tal como muitos registos de estreia, também este não escapa a alguma irregularidade, facilmente desculpável quando o vendaval instrumental e os uivos da cantora atingem o dramatismo envolvente de "Cosmic Love", desenham uma desencantada festa ébria em "Hurricane Drunk" ou se atiram ao romantismo febril de "Two Lungs" - todas canções da segunda metade do disco e a que revela a Florence mais interessante.

 

 

Já na mais plácida e quase sussurrante "My Boy Build Coffins" a cantautora depara-se com a inevitabilidade da morte, em "Blinding" reforça as sombras numa marcha crepuscular e onírica e em "Rabbit Heart (Raise It Up)" faz a ponte entre outros dois discos deste ano - "Two Suns", de Bat For Lashes, do qual se aproxima logo ao início, e o álbum homónimo dos La Roux, no qual caberia facilmente o refrão.

 

À semelhança desses registos, também "Lungs" é um muito aconselhável compêndio de pop com personalidade e ousadia, onde uma carga intensa e barroca não implica demonstrações gratuitas de virtuosismo. Longe disso, atrás das muitas cortinas de pompa e circunstância esconde-se um disco com alma - devidamente emanada pelos pulmões de uma artista a acompanhar.

 

 

 

Florence and The Machine - "Rabbit Heart (Live)"