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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

DIE HARD

A profícua dupla Q&U (Quentin Tarantino e Uma Thurman) regressa para proporcionar uma das experiências mais insólitas, hipnóticas e refrescantes do ano. "Kill Bill - A Vingança - Vol. 1" foi um dos títulos mais aguardados de 2003, marcando o regresso do realizador de "Cães Danados", "Pulp Fiction" e "Jackie Brown", apenas três dos filmes essenciais dos anos 90.
Amado por uns e ignorado por outros, o primeiro tomo da saga da Noiva ofereceu um competentíssimo espectáculo de cor, energia, dinamismo, coreografias, sonoridades e vibrações. O compacto de efusivas cenas de acção soberbamente filmadas compensava a considerável linearidade e previsibilidade do argumento, somente mais uma variação acerca de uma típica história de vingança. Entre referências à cultura oriental (kung fu, manga, anime) e à cultura pop em geral, o primeiro volume da saga deixava pouco claras algumas das linhas essenciais da história (personagens pouco desenvolvidas e sem motivação definida, sobretudo).


"Kill Bill - A Vingança - Vol. 2" não só ata as pontas soltas do primeiro episódio como proporciona uma experiência mais diversificada, coesa e moderada, diminuindo o trepidante ritmo de matança desenfreada que se verificava no seu antecessor (mas, como em qualquer filme de Tarantino que se preze, ainda há múltiplas e criativas cenas de violência temperada com consideráveis doses de humor negro). Desta vez, o tom é mais contemplativo e sóbrio, com inesperados momentos de contenção e intimismo (que se adensam no surpreendente e emotivo desenlace), privilegiando a força dos diálogos e as especificidades das personagens.

Tarantino combina saborosos condimentos para gerar um resultado apetecível, misturando citações a westerns clássicos, homenagens a séries japonesas de artes marciais, considerações acerca do inesgotável universo da banda-desenhada norte-americana (o diálogo sobre o Super-Homem é daqueles que promete deliciar qualquer fã de comics digno desse nome), unindo o lixo e o luxo da cultura popular das últimas décadas e criando um filme que congrega o velho e o novo (enfim, um remix de alguns dos elementos-chave que contaminaram o universo cinematográfico recente).

Esta curiosa amálgama despoleta inúmeros momentos de antologia, desde as divertidas cenas com o mestre Pai Mei (pastiche das séries kitsch de kung fu), ao infernal duelo de loiras (Uma Thurman VS Daryl Hannah), passando ainda pelo angustiante enterro da Noiva (com direito a claustrofóbicas e sufocantes cenas dentro do caixão) e, sobretudo, a atmosfera surpreendentemente intimista da recta final do filme (o inevitável confronto entre Black Mamba e Bill, interpretado por um intrigante e lacónico David Carradine). Acrescente-se um refinado trabalho de montagem, fotografia, banda-sonora e direcção de actores e obtém-se uma entusiasmante e viciante resolução para a quase mítica saga da Noiva.

"Kill Bill - A Vingança - Vol. 2" supera o primeiro volume e oferece um sólido e imaginativo filme que comprova (mais uma vez) o brilhantismo de Quentin Tarantino. Chamar-lhe obra-prima talvez seja um pouco exagerado, mas esta é uma das experiências cinematográficas mais recomendáveis e estimulantes geradas em 2004.

E O VEREDICTO É: 4/5 - MUITO BOM

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