DIE HARD
"Kill Bill - A Vingança - Vol. 2" não só ata as pontas soltas do primeiro episódio como proporciona uma experiência mais diversificada, coesa e moderada, diminuindo o trepidante ritmo de matança desenfreada que se verificava no seu antecessor (mas, como em qualquer filme de Tarantino que se preze, ainda há múltiplas e criativas cenas de violência temperada com consideráveis doses de humor negro). Desta vez, o tom é mais contemplativo e sóbrio, com inesperados momentos de contenção e intimismo (que se adensam no surpreendente e emotivo desenlace), privilegiando a força dos diálogos e as especificidades das personagens.
Tarantino combina saborosos condimentos para gerar um resultado apetecível, misturando citações a westerns clássicos, homenagens a séries japonesas de artes marciais, considerações acerca do inesgotável universo da banda-desenhada norte-americana (o diálogo sobre o Super-Homem é daqueles que promete deliciar qualquer fã de comics digno desse nome), unindo o lixo e o luxo da cultura popular das últimas décadas e criando um filme que congrega o velho e o novo (enfim, um remix de alguns dos elementos-chave que contaminaram o universo cinematográfico recente).
Esta curiosa amálgama despoleta inúmeros momentos de antologia, desde as divertidas cenas com o mestre Pai Mei (pastiche das séries kitsch de kung fu), ao infernal duelo de loiras (Uma Thurman VS Daryl Hannah), passando ainda pelo angustiante enterro da Noiva (com direito a claustrofóbicas e sufocantes cenas dentro do caixão) e, sobretudo, a atmosfera surpreendentemente intimista da recta final do filme (o inevitável confronto entre Black Mamba e Bill, interpretado por um intrigante e lacónico David Carradine). Acrescente-se um refinado trabalho de montagem, fotografia, banda-sonora e direcção de actores e obtém-se uma entusiasmante e viciante resolução para a quase mítica saga da Noiva.
"Kill Bill - A Vingança - Vol. 2" supera o primeiro volume e oferece um sólido e imaginativo filme que comprova (mais uma vez) o brilhantismo de Quentin Tarantino. Chamar-lhe obra-prima talvez seja um pouco exagerado, mas esta é uma das experiências cinematográficas mais recomendáveis e estimulantes geradas em 2004.
E O VEREDICTO É: 4/5 - MUITO BOM