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Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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A RAIZ DO MEDO

Marcado por filmes desinspirados e preguiçosos, o terror é um dos géneros cinematográficos que já viu melhores dias do que os dos últimos anos. Ainda há algumas boas obras a surgir pontualmente, como “A Cabana do Medo”, de Eli Roth, ou “Terra dos Mortos”, de George Romero, mas por cada uma dessas há quatro ou cinco de qualidade duvidosa, na linha de “The Grudge – A Maldição” ou “Águas Passadas”.

“A Descida” (The Descent), segunda película do britânico Neil Marshall, embora parta de uma premissa que de original não terá muito, consegue injectar vitalidade ao género e tornar-se numa das grandes surpresas recentes, comprovando que ainda há quem tenha boas ideias e igual mestria para as executar.

O filme assenta numa viagem empreendida por um grupo de seis jovens mulheres que, de forma a fugirem às preocupações e dilemas do quotidiano, decidem apostar numa aventura radical explorando uma gruta situada num local agreste e isolado.
Se ao início o ambiente é pacífico e despreocupado, vincado por conversas divertidas e pelo reforço dos laços de amizade que as unem há vários anos, essa situação sofre alterações à medida que o grupo vai avançando na sua aventura, deparando-se com perigos inesperados que suscitam conflitos pessoais, agravados quando as protagonistas descobrem que, afinal, não estão sozinhas na sua expedição.

 

“A Descida” é uma viagem atípica e memorável, não só para as personagens, que sofrem um verdadeiro teste à sua coragem e capacidade de improviso, mas também para o espectador, que se arrisca a ter suores frios e a sentir o seu ritmo cardíaco a acelerar à medida que vai seguindo as arrepiantes peripécias das seis amigas.

Para que este worst case scenario funcione as capacidades do realizador são determinantes, e Marshall revela estar à altura para a missão, oferecendo sequências de considerável eficácia.
O uso da iluminação é particularmente engenhoso, pois ajuda a distinguir as personagens no meio da escuridão claustrofóbica e permite gerar alguns saborosos momentos de suspense (com generosas doses de gore), mostrando só aquilo que é necessário e jogando com as expectativas do espectador.

Essa subtileza manifesta-se também na banda-sonora e fotografia, capazes de modelar uma sufocante atmosfera plena de intensidade, proporcionando um concentrado de medo e desespero em tudo distinto à pirotecnia histérica de muitos produtos em que o terror plastificado norte-americano tem sido pródigo.
Mesmo quando as protagonistas se deparam com os assustadores habitantes do subsolo, a plausibilidade e realismo d’”A Descida” mantêm-se intactos, e é refrescante ver personagens que não se tornam em heróis de acção para acentuar a espectacularidade ou a vibração do filme (não há por aqui Laras Crofts, como de resto uma mulheres ironiza).

O esforço das actrizes também é notório e reforça a intrigante aura do filme, e apesar de nem todas as protagonistas serem tridimensionais estão acima das figuras descartáveis que caracterizam muitas películas do género.
A relação das duas aventureiras mais proeminentes é especialmente interessante, não limitando “A Descida” a domínios do terror mas valorizando-o com uma vital carga dramática, construindo um conflito que se torna inquietante até ao final.

Não é fácil criar um filme que desperte uma sensação de enclausuramento e pânico tão fortes, mas Neil Marshall é bem sucedido e edifica aqui uma asfixiante experiência sensorial, a que mesmo os mais destemidos dificilmente permanecerão indiferentes. Não é um clássico, mas está bem acima da média.
 
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

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