Pára ou o papá dispara
Todas as famílias são psicóticas, diz o título de um livro de Douglas Coupland. Mas algumas são mais psicóticas do que outras e a de "Canino", segunda longa-metragem do grego Giorgos Lanthimos, vai seguramente à frente nesse campeonato.
Perto deste vencedor do prémio Un Certain Regard de Cannes, em 2009, a maioria dos filmes sobre famílias disfuncionais é tão ácida e crua como um episódio de "Anatomia de Grey".
Drama com tanto de absurdo como de estranhamente realista, leva ao limite a ideia de pais-galinha ao focar um casal que, na tentativa de proteger os três filhos de influências externas, consegue mantê-los sempre fechados em casa (ainda assim, com direito a jardim) até à entrada na idade adulta.
Aqui e ali a remeter para algumas experiências de Michael Haneke, sobretudo no olhar clínico e rigor formal, "Canino" não só é mais certeiro e equilibrado do que os últimos filmes do autor de "Funny Games" como atira Lanthimos para o grupo de potenciais realizadores de culto. Pelo menos junto dos espectadores com estômagos fortes, capazes de aguentar os murros de algumas cenas de antologia.