As noites do morto-vivo
Para um filme que junta zombies gay e sucessões de cenas de sexo, conta com François Sagat (como protagonista) e Bruce LaBruce (na realização) e tem sido rotulado como "polémico" ou "escandaloso", entre outros epítetos vistosos, "L.A. Zombie" é estranhamente inócuo.
Interdito nos EUA e seleccionado para o Festival de Locarno, tem despertado reacções extremas mas o motivo de tanto falatório fica por esclarecer. Sim, é protagonizado por um actor porno e traz a assinatura de um realizador pouco consensual embora com algum culto. Sim, a ideia de um zombie gay que ressuscita homens através do contacto sexual é suficientemente bizarra e oferece possibilidades, sobretudo em domínios da sátira e série B.
O produto final, contudo, nunca convence nem enquanto filme de terror (inexistente) nem pornográfico (fica-se por um soft core com travo a embuste). No máximo terá algumas cenas levemente cómicas dado o absurdo de alguns momentos, como quando o zombie se passeia pelo centro da cidade em pleno dia e passa despercebido (se a ideia era funcionar enquanto metáfora civilizacional, até porque o protagonista é um sem-abrigo, não é grande coisa).
A combinação de imagem e música nos episódios mais contemplativos (nos planos da cidade, por exemplo) sugere que talvez houvesse mais para dizer e, como curta-metragem, "L.A. Zombie" teria mais hipóteses de funcionar (ou pelo menos não seria tão redundante). Assim não se vislumbram grandes motivos para Sagat sair do seu território natural (talvez "Homme au Bain", de Christophe Honoré, prove o contrário) e a vontade de descobrir a obra de Bruce LaBruce (inédita em Portugal) também não é particularmente forte. O protagonista pode ter ganho vida depois da morte mas o filme, infelizmente, nunca passa de um nado morto.
"L.A. Zombie" insere-se na programação do Queer Lisboa 14, que decorre até dia 25 no Cinema São Jorge