Amor com amor se paga
Depois de alguém ser abandonado pela namorada, qual a melhor forma de a recuper quando se envolve com outro homem? Seduzi-lo e fazer com que ele a traia, claro. Ou talvez não. Mas esta é a forma como Bruno tenta reconquistar Laura em "Plan B", a primeira longa-metragem do argentino Marco Berger.
O que aqui começa como uma comédia leve e irreverente acaba por ir ganhando densidade, assim como a pequena vingança que conduz o filme leva ao surgimento de uma inesperada cumplicidade entre os dois protagonistas - e a episódios cada vez mais tensos à medida que os limites entre a amizade e o amor são questionados.
Manuel Vignau e Lucas Ferraro, tanto nos momentos em que contracenam como naqueles em que têm a câmara só para si, dão às suas personagens a espontaneidade e inquietação que esta história pede (e que felizmente nunca os sujeita a juízos de valor). E Berger, além de óptimo director de actores, apresenta uma primeira obra onde menos é mais, sabendo tirar partido de um orçamento limitado.
Desenhando um estilo lânguido e lacónico assente em longos planos fixos e num ritmo moroso, o realizador faz com que os frequentes compassos de espera, embora por vezes testem a paciência, sejam determinantes para o que o desenlace reserva às personagens (e aos espectadores). E garante ainda que "Plan B" nunca se afogue numa crise existencial sorumbática graças a alguns diálogos directos, francos e espevitados, numa mistura de drama e humor que alguns cineastas latinos conseguem tão bem. Espera-se que os próximos planos mantenham a frescura desta estreia.
3/5
"Plan B" integrou a programação do Queer Lisboa 14, que decorreu de 17 a 25 de Setembro no Cinema São Jorge