Quel dommage...
Decididamente, Christophe Honoré já viu dias melhores. Um ano depois do frustrante "Homme au Bain", até então o ponto mais baixo da sua obra, o novo filme do realizador francês não mostra sinais de regresso à forma.
"Os Bem-Amados", embora bem diferente desse antecessor, mantém o sabor a decepção e, sobretudo, os sinais de desgaste de um autor em tempos aliciante. E o pior é que este drama centrado nas vidas de uma mulher (interpretada primeiro por Ludivine Sagnier e depois por Catherine Deneuve) e da sua filha (Chiara Mastroianni) até arranca com alguma graça, leveza e desenvoltura, deixando que um par de sapatos seja o motor da acção e da mudança de vida da protagonista inicial.
O problema é que, após estas sequências escorreitas, o filme rapidamente perde o fulgor. Ao longo das quase duas horas e meia seguintes, Honoré vai adicionando dilemas e personagens, alimentando uma narrativa que decorre desde os anos 60 até aos dias de hoje e, infelizmente, esticando a acção muito além do aconselhável.
Os momentos musicais, que funcionaram tão bem em "As Canções de Amor", são aqui pouco mais do que mera consolidação de uma imagem de marca, raramente justificando a sua presença (e provando que, tal como o realizador, também Alex Beaupain já foi um compositor mais convincente).
A galeria de personagens não ajuda, sendo das menos carismáticas da obra de Honoré - a de Milos Forman é tão irritante que não se percebe como alguém se sentiria tentado a verter uma lágrima pelo seu destino. E certos desenvolvimentos da narrativa, além de arrastados, são especialmente forçados - caso da paixão obsessiva da filha por um músico gay, que nunca passa do inverosímil.
Mesmo assim, seja pelos actores ou pelo passado do realizador - cuja inspiração é a espaços resgatada -, "Os Bem-Amados" ainda convida ao benefício da dúvida durante boa parte da sua duração. Vale a pena? Não, porque a partir de certa altura é sempre a descer: Honoré está decidido a fazer deste o seu drama familiar épico, comprime décadas de acontecimentos que fariam mais sentido numa mini-série e na recta final, particularmente supérflua, serve os trinta ou quarenta minutos mais penosos que passaram pelo grande ecrã este ano. Quando dá o golpe de misericórdia, o nosso interesse já morreu há muito - e com ele a memória das (poucas) qualidades do filme.
1,5/5