Tempos difíceis

Não falta quem diga que a premissa de "Sem Tempo" não conta com um filme à altura, mas se a nova obra de Andrew Niccol fica a alguns degraus de uma obra-prima, está igualmente longe de um desastre.
A meio caminho entre Charles Dickens (versão futurista) e Phillip K. Dick (com mais crítica social), o realizador de "Gattaca" (1997) avança algumas décadas para apresentar um mundo onde o tempo funciona como moeda de troca, os seus habitantes param de envelhecer aos 25 anos e um rebelde altruísta pretende mudar o estado das coisas - seguindo o lema de Robin Hood e roubando aos ricos para dar aos pobres.
"Sem Tempo" responde a uma ideia invulgarmente promissora com um filme que, depois de apresentar os alicerces desta realidade na primeira metade, aposta num thriller despachado na segunda, preferindo então ser empolgante em vez de denso. Mas mesmo com algumas sequências esquemáticas - e um romance algo forçado -, que tornam a obra mais apetecível para um público devorador de pipocas, Niccol mantém-se acima de um qualquer tarefeiro e não deixa de se preocupar com a história que tem para contar.
Amanda Seyfried e Justin Timberlake, a dupla protagonista, também não se sai mal como Bonnie e Clyde para a (segunda) geração MTV, embora nunca atinja o nível de Cillian Murphy - por um lado, porque o actor irlandês interpreta a personagem mais ambígua; por outro, porque o seu olhar enigmático e por vezes perturbante a torna ainda mais forte.
Num ano com algumas boas surpresas sci-fi viradas para o grande público - "Os Agentes do Destino", "O Código Base" -, "Sem Tempo" dá continuidade a estes blockbusters com ideias, oferece quase duas horas que passam a correr e, também por isso, confirma que vale a pena ir espreitando os filmes de Andrew Niccol - que, não assinando aqui outro "Gattaca", deixa a sua melhor obra desde esse candidato a clássico.
