Alexander Payne, versão crowd pleaser
Se começou por ser um dos queridinhos de alguma crítica (da norte-americana em particular), Alexander Payne é também, cada vez mais, um realizador virado para o grande público. "Sideways" (2004) já tinha sido uma alavanca importante nessa ambição e "Os Descendentes" não a contraria, com George Clooney a liderar o elenco de um drama familiar para (quase) toda a família.
Um bom drama familiar, diga-se: bem escrito, bem filmado, bem interpretado, mas sem o rasgo que se esperaria tendo em conta os muitos elogios - e consequentes nomeações e prémios -, sobretudo quando é assinado por alguém que já mostrou mais ousadia.
A narração em off ou alguma música, por exemplo, mais do que maneirismos, são muitas vezes facilitismos - mesmo assim, não impedem que a narrativa se acompanhe com interesse. Mais difícil de aceitar é o amigo de uma das filhas do protagonista, aparentemente roubado a uma comédia adolescente (e não das melhores), cuja relevância na história que "Os Descendentes" conta é quase nula. E além de parecer estar no filme errado, a personagem reforça as hesitações de tom de uma combinação de drama e humor demasiado ziguezagueante.
Mas se falha nessa, Paine acerta em cheio nas outras personagens principais, com Clooney e duas jovens actrizes a darem alma e coração (e algum azedume) a um pai e duas filhas. Aliás, até é caso para dizer que a filha ultrapassou o pai, porque Shailene Woodley, no papel da mais velha, merece todas as nomeações a que tiver direito - ao contrário de outros aspectos de um filme que cativa mais pela simpatia do que pelo génio.