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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Divórcio no filme, união nas reacções

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Apesar dos muitos defeitos, lobbies ou limitações que possamos apontar aos Óscares, Globos de Ouro ou outros prémios, estes têm o mérito de, por vezes, contribuírem para que alguns filmes possam ter o público que merecem - e a que dificilmente chegariam de outra forma. "Uma Separação" é um desses casos e tem somado, desde o ano passado, uma invejável colecção de distinções.

Em algumas situações a ideia de que os consensos são perigosos até é útil e prudente, mas o filme do iraniano Asghar Farhadi rapidamente nos envolve numa atmosfera que, além de nos prender durante duas horas, deixa eco nos dias seguintes. Seria por isso uma pena que este drama familiar plausível, justo e inteligente como poucos, simultaneamente complexo e acessível, passasse ao lado de muitos.

Quando a narrativa ameaça cair nos moldes do filme de tribunal - afinal, a acção parte de um divórcio -, o realizador troca-nos as voltas, aproveitando as muitas viragens e revelações para ir mergulhando mais fundo nas personagens. E se para elas a viagem emocional e moral vai sendo cada vez mais inquietante, também não saímos ilesos quando nos revemos ou imaginamos em encruzilhadas comparáveis - que Farhadi sabe trabalhar sem cair em juízos de valor (e são tão tentadores), dirigindo um elenco nada menos do que irrepreensível e comovente.

Nesse aspecto, o facto de "Uma Separação" se desenrolar no Irão é apenas um pormenor, porque mesmo com as especificidades jurídicas, culturais, políticas ou religiosas, o seu apelo e intensidade têm passagem garantida em qualquer fronteira - até nas de prémios habituados a distinguir os suspeitos do costume.

4,5/5