A cor do dinheiro
Enquanto a última edição dos Óscares andou entretida com filmes simpáticos e amenos para toda a família, uma das obras mais lúcidas e adultas do cinema norte-americano recente arrisca-se a passar ao lado de muitos.
É certo que "Margin Call — O Dia Antes do Fim" foi premiado, por exemplo, pelos Independent Spirit Awards, o que prova que há quem esteja atento, mas é estranho que esta primeira obra de J.C. Chandor, até por ter no elenco nomes como Kevin Spacey, Jeremy Irons ou Demi Moore - que vão todos muito bem, já agora -, fique relativamente longe dos holofotes.
Sem ser um portento cinematográfico, este olhar ficcionado (mas não muito) sobre as origens da crise financeira, em 2008, além de nos dizer mais sobre o mercado laboral dos dias de hoje do que muitos debates e noticiários, faz da precariedade, da desconfiança e da solidão os fantasmas de um thriller sem um grama de sensacionalismo.
Concentrando-se num espaço temporal curto - a acção ocupa pouco mais do que uma noite -, J.C. Chandor aproveita a força dos actores (apesar do carisma dos veteranos, convém prestar atenção aos mais jovens Zachary Quinto e Penn Badgley) e a agilidade dos diálogos para tecer uma narrativa sóbria - e simultaneamente tensa - que perde em picos dramáticos o que ganha em realismo. E insiste em não nos facilitar a vida: sim, esta gente é responsável pela crise, mas as personagens são tratadas com a complexidade e ambivalência que merecem. Porque o mundo não é a preto e branco e é bom que alguns filmes não se esqueçam disso...