Estes dinamarqueses são loucos!
Nada menos do que tremendo, o concerto dos WhoMadeWho, este sábado, no Musicbox Lisboa. As passagens anteriores do trio dinamarquês por cá - na sala do Cais do Sodré e no Lux - já tinham mostrado que Tomas Hoefding, Jeppe Kjellberg e Tomas Barfod têm a escola toda quando o assunto é gerir e disparar ritmos - até aqui, quase sempre ancorados nos modelos funk punk redescobertos há cerca de dez anos. Mesmo assim, na terceira noite do Jameson Urban Routes 2012 conseguiram ir além da eficácia habitual e alternaram, às vezes no espaço de pouquíssimos minutos, entre o intimista e o vertiginoso sem que a actuação sofresse com isso. Pelo contrário, a surpresa assente nesse contraste de tempos e sonoridades manteve agarrado um público que reagiu à medida das canções - concentrado nos momentos mais calmos (como no crooning de "Below the Cherry Moon"), efusivo nos acessos mais enérgicos (destaque inevitável para a colossal "Two Feet Off Ground", onde muito boa gente seguiu à letra o título da canção).
Com um som mais ambicioso e espacial do que o das visitas anteriores, a dar outro embalo ao power trio de guitarra, bateria e baixo (cruzados com elementos mais sintéticos), o concerto também ganhou pontos pela atitude entusiasta da banda. Em especial a de Jeppe Kjellberg, que pareceu decidido a tocar ou cantar em falsete em todos os recantos da sala: subiu a uma coluna e a um escadote, irrompeu pelo meio do público mais de uma vez e ainda trocou alguns mimos lúdico-eróticos com Jeppe Kjellberg - talvez para completar a tríade sexo, dança e rock n' roll.
A fechar uma sucessão de canções nascidas para os palcos - da carga enleante de "Keep Me In My Plane" à correria de "TV Friend" -, "Every Minute Alone" foi servida numa versão particularmente fantasmagórica e explosiva, antecedendo um encore que deitou tudo abaixo com uma passagem por "Satisfaction", de Benny Benassi. Se era para a desgraça, então essa bomba foi a melhor forma de terminar um concerto desvairado, sobretudo quando acompanhada - como a banda o demonstrou - com uns copos de caipirinha. Mais do que merecidos, claro, depois de uma actuação tão desidratante.
4/5
Não foi em Lisboa, mas foi parecido:
Antes dos WhoMadeWho, a festa foi devidamente montada pela prata da casa com Moullinex e a Discotexas Band, que alternaram temas novos do produtor - cujo álbum de estreia, "Flora", chega dia 26 - com canções já habituais do grupo especializado em ambientes disco, soul e funk - e que através deles se sai bem na missão de fazer exercitar os músculos do público. A ajudar ao mashup, a actuação contou com a colaboração, em três temas, de Iwona Skwarek, metade dos Rebeka, dupla polaca que fechou a noite de concertos.
Se na primeira vez que esteve em palco Iwona deu motivos para estarmos atentos ao álbum de Moullinex (foram dele as três canções que interpretou), na segunda aguçou o apetite pelo disco do seu próprio projecto. Por enquanto mais falados (sobretudo nas estradas virtuais) pelo single "Stars", os Rebeka mostraram que o seu interesse por uma pop electrónica tão imediata como experimental não se resume a esse tema.
Tal como outros duos ele e ela que provavelmente os inspiraram - como os Yazoo ou os Eurythmics -, aqui ele (no caso, Bartosz Szczesny) trata da maquinaria enquanto ela oferece a voz (e, quando é preciso, também é teclista ou guitarrista). O resultado, às vezes, não difere muito da proposta de uns Chew Lips, e noutras chega a lembrar (pelo registo vocal de Iwona) aquilo a que soaria uma Adele mais arriscada.
Sem nunca despertarem histerias comparáveis à das outras bandas da noite - até porque as suas canções foram geralmente mais sóbrias -, os Rebeka foram suficientemente sedutores, chegando a mostrar uma garra inesperada nos dois últimos temas, mais claustrofóbicos e destravados. Deu para perceber, pelo menos, que têm estofo para ser mais do que one hit wonders...
3/5