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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Polícias com lei

 

"Fim de Turno" não diz, na essência, nada que não tenha sido já dito em vários filmes e, sobretudo, séries centrados no quotidiano dos polícias. Ainda assim, isso não é motivo para deixarmos a terceira experiência de David Ayer na realização passar ao lado, não só porque o norte-americano está à vontade no território que pisa - cresceu na zona problemática de Los Angeles que é cenário do filme, escreveu policiais como "Dia de Treino" ou "Azul Escuro" -, mas também porque tem, em Jake Gyllehaal e Michael Peña, uma das duplas mais memoráveis que passaram pelo grande ecrã este ano.

 

Com uma química capaz de imprimir espontaneidade a situações por vezes rotineiras, o duo protagonista dá aos seus polícias um entusiasmo adolescente que prende logo aos primeiros minutos, catalisa uma dose generosa de cenas dominadas por uma adrenalina que Ayer sabe trabalhar (tirando partido do formato "found footage" sem se deixar deslumbrar pelas suas potencialidades) e injecta um capital de simpatia muito acima da média num buddy movie/bromance mais cru do que o habitual.

 

Por outro lado, ao não mergulhar no cinismo de outros retratos dos bastidores da polícia, "Fim de Turno" não será um filme difícil de atacar, embora Ayer também não chegue a render-se a uma abordagem tão edificante como algumas cenas sugerem. O pior é mesmo a galeria de antagonistas, elementos de um cartel de droga desenhados a traço grosso, ou um final não muito difícil de descortinar com alguma antecedência. Mas essa relativa previsibilidade dos últimos minutos até se desculpa facilmente: além de ser servida com uma tensão asfixiante, a vincar a sintonia entre actores e realizador, guarda um epílogo que compensa a mudança de tom algo abrupta, recordando o melhor que o filme tem. E "Fim de Turno" tem mais do que o suficiente para nos fazer prender os olhos ao grande ecrã - e o coração às mãos - em grande parte das suas sequências...