A comédia já não mora aqui
Como dizia o outro, não havia necessidade... Se "A Ressaca - Parte III", estranhamente elevada a clássico da comédia norte-americana recente, já não estava muito acima dos mínimos exigíveis a um filme de domingo à tarde, o terceiro capítulo da trilogia de Todd Philips vem provar que as aventuras do Wolfpack bem podiam ter terminado logo ao princípio.
Desta vez nota-se, é verdade, o cuidado de não repetir a fórmula num cenário diferente, modelo seguido no filme anterior, mas a alternativa não é especialmente feliz: em vez de uma comédia, "A Ressaca - Parte III" quer ser um heist movie (no caso, tosco e genérico) que, de vez em quando, se lembra de juntar algum (suposto) humor, ora negro (?) ora disparatado, para manter a ligação à saga. Só que a procura de maior gravidade, com mortes à mistura, dá-se mal com a ligeireza acentuada logo a seguir, atirando o filme para uma terra de ninguém habitada por personagens gastas.
Outra das novidades passa por Zach Galifianakis e Ken Jeong ganharem maior protagonismo, o que também nem sempre ajuda: a irreverência histriónica do segundo, em particular, funciona (ou aguenta-se) melhor em doses limitadas e o primeiro já teve mais graça neste registo (sobretudo em "A Tempo e Horas", também de Todd Phillips, então inspirado). Já Bradley Cooper quase podia nem estar aqui, entregue a uma personagem praticamente tão decorativa como a de Heather Graham (um dos ecos do primeiro filme que se esgotam nessa função).
Se a ideia é ver uma comédia em que homens feitos se comportam como adolescentes (ou crianças), sempre ficamos melhor com as de Judd Apatow - a última, "Aguenta-te aos 40!", não era imperdível mas pelo menos tinha uma razão de ser, embora tenha passado a leste das atenções. Em "A Ressaca - Parte III", a motivação parece apenas monetária, o que só é reprovável porque o filme tem mesmo muito pouco para dar em troca...