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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Electrotrash

Uma das melhores revelações de 2006, os brasileiros Cansei de Ser Sexy têm, no seu álbum de estreia homónimo, algumas das canções mais contagiantes e irresistíveis dos últimos tempos, exemplos de uma pop que equilibra com eficácia acessibilidade e estranheza.

O sexteto, composto por membros com experiência no mundo da moda, artes gráficas e cinema, conheceu-se através da internet, e mesmo sem que nenhum dos elementos tivesse qualquer formação musical (excepto o baterista, que é também a única presença masculina do grupo), esse contacto acabou por levar à formação de uma banda.
O nome, aproveitado de um excerto de uma entrevista a Beyoncé, sugere logo que este é um projecto atípico e dominado por um peculiar sentido de humor, presente também nas letras de grande parte das canções e na postura descomprometida dos músicos.

 

Contrastando e recontextualizando diversas influências, os Cansei de Ser Sexy tanto enveredam por domínios electro como resgatam códigos da new wave, percorrendo ainda territórios de um indie rock de meados de 90 e adiconando ocasionais temperos funk.
O disco de estreia reaproveita temas dos seus três EPs - "Em Rotterdam Já é Uma Febre", "A Onda Mortal / Uma Tarde Com PJ" e "CSS SUXXX" - e oferece outros tantos inéditos, resultando num todo coeso, embora ecléctico, onde é difícil apontar momentos que se destaquem uma vez que todos poderiam funcionar como singles, dada a carga viciante que o álbum transpira da primeira à última canção.
 
Não é que o grupo traga aqui algo de muito inovador, até porque é fácil encontrar aproximações com outros nomes em quase todos os temas - das Le Tigre a Peaches, das Breeders aos Vive la Fête, das Chicks on Speed aos Metric, a lista de comparações não é curta -, mas a banda não perde por isso, uma vez que a despretensão é evidente e as canções não aspiram a mais do que funcionar enquanto pastiches lúdicos e hedonistas, e cumprem-no de forma bastante meritória.

Concentrado de pérolas pop pastilha-elástica, "Cansei de Ser Sexy" dispara tiros certeiros como o single "Let's Make Love and Listen to Death From Above", o delirante "Meeting Paris Hilton" (centrado na socialite mais mediática do momento), o efervescente "Alala" (proposta irrecusável numa pista de dança), ou a ode à música que transborda no pujante "Music Is My Hot Hot Sex".
Entre divagações sobre a cultura pop, estudantes de arte ou provocações sexuais, as letras percorrem territórios bizarros e quase sempre nonsense, e as melodias upbeat que as acompanham contribuem para que as canções se tornem em absorventes estilhaços de energia cinética, atirando a banda para um universo próprio, não obstante as óbvias influências.

Lamenta-se, contudo, que a edição internacional do disco (via Sub Pop) não inclua alguns temas da versão brasileira, casos do cativante devaneio de electrónica lo-fi "Computer Heat" e das canções cantadas em português, como "Acho um Pouco Bom" (perfeita descrição de um dia de inércia caseira), "Bezzi" (hilariante rebuçado pop centrado num DJ brasileiro) e "Superafim" (provavelmente a composição mais trashy da banda).
De qualquer forma, seja na edição brasileira ou na internacional, "Cansei de Ser Sexy" ganha o lugar de feelgood album de 2006 já que, para afastar a má disposição, é mais eficaz do que dez aspirinas e tem a vantagem poder ser consumido sem contra-indicações. Pelo menos até chegar o próximo...
 
E O VEREDICTO É
: 3,5/5 - BOM

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