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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Música no coração

Um dos músicos norte-americanos mais influentes e singulares das últimas décadas, Johnny Cash faleceu em 2003 mas deixou como legado uma vasta obra que edificou ao longo de décadas, aliando simplicidade e personalidade e expandindo os horizontes da música country.

Sendo uma figura de culto, as ideias para um filme inspirado na sua vida já circulavam há anos nos bastidores de Hollywood, mas foi James Mangold quem se encarregou de dar seguimento ao projecto e narrar o percurso do cantor/compositor no grande ecrã, em “Walk the Line”.



 


Sendo um realizador capaz de criar, por vezes, filmes com substância e alguma criatividade (“Vida Interrompida”), Mangold também tem na sua filmografia películas que poderiam ter sido dirigidas por qualquer tarefeiro (“Kate e Leopold”, “Identidade Misteriosa”), tornando-o num nome arriscado para gerar um filme em torno de Cash (para academismo, já bastou o de Taylor Hackford em “Ray”).

Felizmente, em “Walk the Line” Mangold volta à boa forma e apresenta um trabalho sólido que não envergonha ninguém, e embora se confirme que a inventividade e a ousadia não são o seu forte, o registo clássico que adopta aqui é bastante adequado.


Se, por um lado, o filme segue o formato do biopic tradicional, ao focar uma história de triunfo sobre a adversidade (neste caso, os problemas familiares e a dependência do álcool ou de drogas), com um enfoque larger than life e uma estrutura episódica, exibe alguns desvios ao não relatar toda a vida de Cash (centra-se essencialmente nas décadas de 50 e 60 e ignora os últimos anos do músico) e, sobretudo, ao conceder uma relevância primordial ao relacionamento do protagonista com a também cantora June Carter.

Este último elemento é determinante e responsável por “Walk the Line” ser um filme acima da média, pois até ao momento em que Johnny e June se aproximam a película não é mais do que um biopic convencional e indistinto, onde Mangold tenta mas raramente consegue injectar alguma alma às cenas.


O filme demora a arrancar e só o faz quando a relação profissional e pessoal dos dois músicos começa a ganhar mais espaço, impondo-se como o aspecto nuclear da película.

É certo que há por aqui sequências com interessantes olhares sobre a América rural, a música ou a aura de outcast que envolvia Cash, contudo os momentos de maior carga dramática são aqueles onde a cumplicidade entre os dois amantes é a única solução para suplantar situações conturbadas.


Sem boas interpretações, a história de amor dificilmente seria convincente, mas neste caso tanto Joaquin Phoenix como Reese Witherspoon são excelentes, compondo figuras tridimensionais e ambivalentes e gerando uma química invejável.
Phoenix não precisa de mais do que alguns olhares e expressões certeiros para evidenciar um âmago denso e pleno de convulsões, e Witherspoon é admirável ao encarnar uma June Carter com uma força e optimismo contagiantes, justificando o Óscar de Melhor Actriz que arrecadou pelo seu desempenho.
As prestações da dupla são ainda dignas de nota porque os actores interpretaram as muitas canções que surgem no filme, sendo o resultado muito consistente e promissor.


Entre o musical e o melodrama, “Walk the Line” é um recomendável biopic centrado numa história de amor contada de forma adulta e envolvente, onde mais do que uma sequência de acontecimentos se privilegia descobrir e mergulhar no universo interior de duas personagens bem construídas. Um dos filmes a incluir na lista de boas surpresas de 2006, portanto.



E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM





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