A segunda temporada de "INVENCÍVEL", recém-estreada na Prime Video, lida com uma das revelações mais chocantes da primeira e não demora a abrir a porta ao multiverso. Os episódios iniciais não desiludem, mesmo que o melhor pareça estar para vir...
Grandes poderes trazem grandes responsabilidades, e estas são maiores quando se é filho do supervilão mais perigoso do planeta e galáxias vizinhas. Depois de descobrir a faceta mais negra do pai, Mark Grayson, cujo alter ego é o super-herói titular da mais recente série de Robert Kirkman (inspirada na BD homónima do autor de "The Walking Dead" ou "Outcast"), debate-se com o seu papel e com a angústia da mãe num mundo que o olha com desconfiança ou até medo. Afinal, o que o impede de destruir tantos ou mais vigilantes e civis como o renegado Omni-Man?
A resposta será talvez o maior motivo de interesse da segunda temporada de "INVENCÍVEL", que tem a difícil tarefa de suceder a uma das propostas mais estimulantes em torno dos super-heróis surgidas nos ecrãs nos últimos anos. O timing é certeiro: a série regressou no mesmo dia em que "Gen V", o spin-off de "The Boys", se despediu (para já), também na Prime Video. E ao lado dos filmes do "Aranhaverso", estas têm sido as sagas mais recomendáveis de um género a precisar de revitalização fora das páginas dos comics.
À semelhança do que a Marvel e a DC fizeram nas produções mais recentes, os novos episódios desta série de animação para adolescentes e adultos exploram as possibilidades do multiverso, como já tinha acontecido nos livros que adapta. E se é verdade que hoje o conceito já não é tão surpreendente, ainda motiva algumas das melhores sequências deste regresso: precisamente as primeiras, que sugerem todo o potencial das capacidades do protagonista, mas nos antípodas dos ideais de um super-herói. Já na realidade central de "INVENCÍVEL", "Karma Police", um dos clássicos dos Radiohead, é a banda sonora perfeita para ilustrar a rotina de Mark depois de a sua família desmoronar.
O clã Grayson, no entanto, está longe de ser o único em foco numa temporada que alarga um núcleo de personagens já de si considerável. O que não é necessariamente mau, uma vez que as relações entre elas são das maiores qualidades da série (uma das lições que Kirkman parece ter tirado das melhores aventuras do Homem-Aranha), mas o segundo episódio desta temporada acaba por ser ressentir de uma narrativa algo fragmentada ao tanto querer apresentar novas caras como reencontrar velhas conhecidas.
Tendo em conta que a Prime Video estreia apenas um capítulo por semana (sendo que os últimos quatro chegam apenas em data a anunciar no início de 2024), este modelo talvez não seja o mais favorável para uma história intrincada q.b., que beneficiaria ao ser vista sem tantas quebras. Mas esse parece ser um mal menor numa saga que não perdeu vitalidade, coração ou imaginação, e que já deixava saudades (regressa mais de dois anos depois da estreia).
Os dois primeiros episódios da segunda temporada de "INVENCÍVEL" estão disponíveis na Prime Video. A plataforma de streaming estreia novos episódios todas as sextas-feiras.
E não é que o mundo de "The Boys" ainda consegue surpreender? "GEN V", o primeiro spin-off em imagem real da série de culto da Prime Video, mantém o atrevimento fervilhante e tempera-o com algumas doses de coração (mesmo que prometa rebentar a qualquer altura). Os três primeiros episódios são um convite sério ao binge-watching.
Depois da (suculenta) antologia de animação "The Boys Presents: Diabolical", estreada no ano passado, o universo da BD criada por Garth Ennis e Darick Robertson volta a expandir-se no pequeno ecrã. "GEN V", a segunda série derivada de "The Boys", afirma-se como mais uma bem-vinda incursão numa saga em que a maioria dos super-heróis terá um décimo da nobreza dos clássicos da Marvel ou da DC (numa perspectiva optimista), embora a protagonista desta nova aventura até se guie por um idealismo pouco habitual nestas paragens.
Marie Moreau descobriu as suas capacidades especiais (manipular sangue) da pior forma, mas está decidida a utilizá-las para um bem maior: a personagem no centro deste spin-off quer ser a primeira super-heroína negra a integrar a equipa dos Sete, um equivalente (muito) distorcido da Liga da Justiça. Só que ao contrário da série original, "GEN V" até lembra mais sagas da BD como a dos X-Men (ou a tão esquecida como saudosa Gen¹³), ao se concentrar num grupo de estudantes da primeira universidade dedicada a jovens com superpoderes. A instituição esconde, claro, um segredo terrível (como parece esconder qualquer grande entidade deste mundo, começando pela dominante Vought International), e desvendá-lo vai começar a tornar mais complicado o quotidiano da protagonista e de alguns colegas.
A primeira sequência não engana: sangrenta e ultraviolenta, de uma forma particularmente bizarra, mostra que estamos no território inconfundível de "The Boys". E o mesmo pode dizer-se de uma cena de sexo delirante, a ultrapassar mais uma vez a linha do bom gosto, que só poderia acontecer entre seres superpoderosos deste universo (nunca a veríamos, por exemplo, numa história do Homem-Formiga).
Momentos como esses não serão, no entanto, grande novidade para quem já está familiarizado com a visão corrosiva de Eric Kripke, que desta vez partilha a autoria da série com Craig Rosenberg e Evan Goldberg - Michele Fazekas e Tara Butters, ambas vindas do filão "Lei & Ordem", são as showrunners. Mais surpreendente é ver esses códigos num relato da entrada na idade adulta feito com uma carga emocional algo inesperada, que equilibra o cinismo vindo da série-mãe. "GEN V" também faz mira ao capitalismo exacerbado, ao racismo ou ao machismo, mas a partir de um perigoso conflito de gerações, colocando-se, para já, do lado dos filhos (cuja vida foi determinada pelos pais sem o seu consentimento ou sequer conhecimento).
Se por um lado esta opção leva a que não haja nenhum protagonista que os espectadores adorem odiar, capaz de roubar qualquer cena como Homelander faz em "The Boys" - o Golden Boy de Patrick Schwarzenegger ameaça ser um sucessor, mas o argumento mete-o noutros caminhos e a comparação com o desempenho certeiro de Antony Starr não o favorece -, há pelo menos uma personagem memorável: Emma Meyer (AKA Grilinho), a oferecer o maior capital de simpatia, e a interpretação sensível de Lizze Broadway não esgota, felizmente, esta estudante e celebridade virtual ansiosa no alívio cómico.
Jaz Sinclair revela-se segura como Marie, candidata a super-heroína mais ambígua do que parece à partida, e Chance Perdomo e London Thor também se destacam numa jovem equipa nascida de improviso. A acompanhá-los estão alguns veteranos de "The Boys", em participações especiais, que ajudam a reforçar a ponte com a saga matriz e trazem valor acrescentado a quem já a viu. Mas outro dos trunfos de "GEN V" é que esta história também pode ser vista por iniciados sem que se percam pelo caminho - uma vantagem face a muitas sagas férteis em spin-offs, prequelas ou sequelas -, que provavelmente ficarão tentados a descobrir o que está para trás...
Os três primeiros episódios da primeira temporada de "GEN V" estão disponíveis na Prime Video desde 29 de Setembro. A plataforma da Amazon estreia novos capítulos todas as sextas-feiras.