À beira de uma estreia promissora
Tanto as visões de João Aguardela na aventura Megafone, iniciada nos anos 90, como o apelo à dança de Vasco Ribeiro Casais no projecto Omiri e o mergulho no cancioneiro açoriano de Pedro Lucas, mentor d'O Experimentar Na M'Incomoda, já neste milénio, sugeriram que o folcore português pode dar-se bem com a exploração electrónica. E dessa ponte entre universos à partida afastados nasceu também um dos primeiros discos nacionais de 2022, que chega já esta sexta-feira, 11 de Fevereiro, através da editora holandesa-brasileira Frente Bolivarista.
O álbum de estreia homónimo dos BANDUA é o resultado de ideias que começaram a ser esboçadas em 2018 por Bernardo D’Addario (também conhecido como Tempura), na produção, e Edgar Valente (co-fundador dos Criatura), na voz. O ponto de partida foi a aliança entre tradição e modernidade, mas a dupla distingue-se desde logo de outros projectos que já exploraram essas possibilidades ao centrar as atenções na música nascida na Beira Baixa (região na qual ambos os elementos têm raízes), revisitando-a através da electrónica mais contemplativa.
Esse foco explica a predominância de instrumentos como o adufe e a opção pelo downtempo como linguaguem dominante, com inspirações que vão da noite berlinense à música de dança de 4hero ou Four Tet - mas também cabem aqui a escola de António Variações ou as pistas pioneiras deixadas por João Aguardela, assinalou o duo numa entrevista recente.
Depois de uma primeira amostra, "Macelada", no ano passado, o single "CINCO SENTIDOS" retoma a vertente atmosférica, guardando alguma agitação rítmica mais para o final, ao adaptar um poema de uma canção tradicional da Beira Baixa (mote de todos os temas do disco).
O videoclip, realizado por Cláudia Batalhão, é uma viagem ao interior (em mais de um sentido) feita à medida do tom hipnótico, planante e melancólico da música. E deixa um belo cartão de visita para o álbum, que já tem subida a palco agendada para 1 de Abril na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa.