A brincar, a brincar, está aqui um dos melhores filmes deste Verão
É a excepção que confirma a regra: uma sequela que não desilude nem fica a dever muito aos antecessores, capaz de inserir novidade sem trair a matriz da saga. Um bálsamo num Verão especialmente desanimador em estreias, este "TOY STORY 4".
Era legítimo ter algumas reservas quanto a uma nova aventura de Woody, Buzz Lightyear e companhia depois de "Toy Story 3" ter deixado um final perfeito para a saga que revolucionou o cinema de animação e deu conta do potencial da Pixar. Mas o quarto capítulo centrado nas peripécias dos brinquedos está longe de ser mais um blockbuster oportunista num cenário mainstream dominado por sequelas, prequelas, remakes e reboots. E se é provável que as receitas de bilheteira terão contado na altura de avançar com mais um filme, o resultado não equivale a uma montra de preguiça criativa e falta de arrojo.
Josh Cooley, veterano da Pixar, estreia-se nas longas metragens com uma obra que mantém a mistura de imaginação e sensibilidade presente no universo de "Toy Story" desde 1995, numa história que junta personagens clássicas da saga e apresenta outras capazes de disputar esse estatuto. E pelo caminho deixa mais uma ode à amizade e ao sentimento de pertença enquanto também coloca os protagonistas a lidar com a perda ou com o peso das escolhas, com uma conjugação de humor e drama mais orgânica e envolvente do que a de grande parte da concorrência.
Woody volta a estar, mais uma vez, no centro dos acontecimentos, embora já não seja o objecto de maior atenção da sua nova dona. Mas a sua cedência à nostalgia será interrompida pelo papel de tutor do brinquedo mais recente, Forky, um híbrido de plástico e corda tão ingénuo como desastrado. Já Bo Peep, não sendo uma personagem nova, ganha novo fôlego depois de breves aparições nos filmes anteriores, tornado-se numa das figuras femininas mais determinantes da saga.
Ainda assim, o arco mais forte de "TOY STORY 4" pertence a Gabby Gabby, que dá ao filme uma espessura emocional considerável ao fugir à vilanização fácil, num exemplo que muitas aventuras de super-heróis no cinema deveriam seguir (apesar de ser um brinquedo, a antagonista de Woody é bem mais intrigante do que quase todos os vilões dos filmes da Marvel e DC).
Se Forky acaba por se revelar uma personagem mais instrumental do que talvez se esperaria, e reduzida a um gag repetido demasiadas vezes, as jornadas de Bo Peep e Gabby Gabby justificam plenamente a existência desta sequela. E o argumento é bastante habilidoso ao cruzá-las com a crise existencial de Woody, que embarca numa nova missão de resgate enquanto coloca em causa o seu papel e prioridades de brinquedo.
Outras caras novas, os peluches Ducky e Bubby servem alguns dos momentos mais hilariantes, cortesia de Jordan Peele e Keegan Michael Key. Só que a presença deles e de outras aquisições como Duke Caboom, piloto com a voz de Keanu Reeves, acabam por reduzir o tempo de antena dos secundários clássicos. E até Buzz sai prejudicado, num dos subenredos menos elaborados e sem o protagonismo de outros tempos, naquela que está entre as poucas fragilidades do filme. Nos outros aspectos, contudo, "TOY STORY 4" gere admiravelmente o tom, o ritmo e os arcos narrativos ao longo de hora e meia, com uma energia e encanto raras numa quarta aventura. O Verão precisa de mais estreias assim. E o resto do ano também, já agora...
3,5/5