Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

A guerra dos tontos?

Missandei e Verme Cinzento.jpg

 

Nota: texto com spoilers de "A Guerra dos Tronos" (T8E4)

 

A boa notícia primeiro: "The Last of the Starks" é um episódio menos desapontante do que o antecessor, o famigerado "The Long Night". Agora a má: o antepenúltimo capítulo de "A GUERRA DOS TRONOS" continua a não fazer jus à expectativa (desmesurada, é certo) que a oitava temporada da série despertou.

 

A aceleração temporal é um dos problemas, embora não seja novo: dominou boa parte da sétima época, não marcou tanto os primeiros episódios desta, mas aqui é evidente. Acontecimentos que noutras fases da saga teriam tempo e espaço para serem digeridos, tanto pelas personagens como pelos espectadores, ficam aquém do efeito pretendido quando o argumento tem obrigatoriamente de seguir em frente, e depressa (afinal, estamos a dois episódios do fim).

 

O arco de Brienne of Tarth e Jaime Lannister conta com um desenvolvimento especialmente acelerado, depois de a "mulher grande" (Tormund dixit) ter tido um dos melhores momentos da temporada no segundo episódio. O relacionamento, decisivo para a evolução de ambas as personagens, sai rematado (pelo menos por agora) com uma reviravolta telenovelesca e que chega a soar a falso - é difícil de acreditar que a armadura emocional de Brienne desmoronaria de forma tão abrupta.

 

Jaime e Brienne.jpg

 

Outra cena na qual não se acredita muito é a que mostra que Tyrion Lannister está longe dos seus dias de maior perspicácia. O apelo emotivo à irmã, Cersei, é demasiado ingénuo, e a reacção desta, que apesar de tudo decide poupá-lo, não faz sentido nenhum depois de ter contratado Bronn para o assassinar. Falando nele, a sequência com a chegada do mercenário tagarela a Winterfell também não convence, e parece indecisa entre um registo espirituoso ou um crescendo de tensão, além de narrativamente seguir pelo caminho mais expectável (alguém chegou a acreditar que Tyrion e Jaime morreriam pelas mãos dele?).

 

Mas os acontecimentos-chave deste episódio serão as duas mortes, ambas também longe do efeito de outros tempos. A do dragão Rhaegal é tão repentina quanto inverosímil, sobretudo quando Daenerys Targaryen sai completamente ilesa na mesma ocasião. E a de Missandei trata a personagem como pouco mais do que carne para canhão, destinando-se a reforçar a dor e revolta de uma das protagonistas. É uma tragédia inglória, que replica o que já tinha sucedido a Jorah Mormont ou Theon Greyjoy no episódio anterior (ambos ceifados na defesa de uma figura com mais peso na história), com a desvantagem de Missandei ter tido um arco ainda menos trabalhado.

 

Se é verdade que "A GUERRA DOS TRONOS" sempre teve incoerências e soluções questionáveis em alguns dos seus subenredos, "The Last of the Starks" fica como um dos maiores casos de overdose. Salvam-se as cenas com as irmãs Stark, em especial as de Sansa e a cumplicidade desta com Tyrion - de longe um dos desenvolvimentos mais interessantes desta temporada. Isso e alguns dos diálogos trocados entre o mais novo dos Lannisters e Varys, capazes dos mínimos de eloquência entre viragens toscas. A dois episódios do fim, ainda haverá salvação para a saga de Westeros? Talvez nem Bran saiba... (e quanto menos se falar do arco dele, melhor)