A morte fica-lhes tão bem
A quinta temporada de "A GUERRA DOS TRONOS" promete ser a mais arriscada e chocante até agora, tanto para as personagens como para os fãs.
Ter lido os livros de George R. R. Martin foi deixando de ser garantia para antecipar muitas viragens e os novos episódios reforçam essa tendência, dizendo adeus a figuras que se mantêm vivas na história original e propondo rumos diferentes para outras.
Esse contraste marca logo o momento mais trágico e arrepiante do capítulo inicial, com os seguintes a confirmar o que já sabíamos: em Westeros ninguém está seguro e as boas acções raramente são recompensadas. Até porque algumas das personagens vincadas pela nobreza de carácter, mas entretanto cada vez mais poderosas, também vão ficando cada vez mais impiedosas, o preço a pagar para não perderem essa posição. E não é qualquer saga que está disposta a arriscar o capital de simpatia dos protagonistas enquanto os afunda em abismos morais, com consequências especialmente fortes para os percursos de Jon Snow e Daenerys Targaryen (personagens capazes de sobreviver aos desempenhos mornos dos actores).
Matar ou ser morto? O cenário nem sempre é tão extremo, mas hesitar entrar no ciclo de violência e vingança é meio caminho para a perdição. Tommen Lannister, uma das personagens mais inocentes, parece estar perto de o descobrir ao tornar-se joguete das manipulações da mãe, Cersei, e da mulher, Margaery Tyrell, duas das maiores megeras dos Sete Reinos (estas sim, na pele de actrizes que se atiram com garra ao papel).
A primeira sai especialmente favorecida num arranque de temporada que permite a Lena Headey dar mais nuances à personagem, sempre mais desafiante (e humanizada) quando luta pelos filhos - e agora a principal responsável por adicionar o fundamentalismo religioso à ementa temática da série.
Os melhores arcos narrativos partem, aliás, quase todos da dinâmica de duas figuras: do sarcasmo entre Tyrion e Varis resultam alguns dos diálogos mais memoráveis, Sansa e Littlefinger oferecem uma masterclass de calculismo e instinto de sobrevivência, Brienne e Podrick são o coração e a esperança no meio da desolação.
Nem todas as duplas funcionam (veja-se Daenerys Targaryen e Daario Naharis, casal meramente decorativo), mas pelo menos esta temporada dispensa as aventuras de Bran e Hodor, um dos subenredos mais arrastados da anterior (e de tom desajustado ao escorregar no sobrenatural).
A deixar mais saudades do que o jovem Stark, Oberyn Martell foi uma das baixas imperdoáveis, talvez a maior estrela da quarta temporada e seguramente a melhor revelação. Felizmente não morreu em vão e abre caminho para que a saga espreite Dorne, reino com cenário mediterrânico (mais um a juntar a uma lista de encher o olho) e três filhas bastardas que pedem justiça - naturalmente, feita pelas próprias mãos. Será desta que a contagem chega às 500 mortes?