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Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

A soma de todos os medos

Crescer assusta e para os protagonistas de "IT" chega mesmo a ser terrível. Mas nem tudo é mau quando o lado mais tenebroso da adolescência inspira uma das melhores surpresas recentes do cinema norte-americano (e com direito a um reconhecimento merecido nas bilheteiras).

 

It

 

Obra-prima? Clássico instantâneo? Apesar do burburinho mediático e de algum aplauso crítico, o filme de Andy Muschietti (sucessor de "Mamã", de 2013) não chega a tanto. Longe disso. Mas não deixa de ter elementos estimáveis, daqueles que não têm tido grande paralelo noutros sucessos de bilheteira dos últimos tempos - muitas vezes entregues a sequelas, prequelas, reboots ou remakes pouco imaginativos.

 

Não é que "IT" seja propriamente uma pedrada no charco, desde logo porque não só parte do livro homónimo de Stephen King como surge depois da adaptação televisiva, no formato de minissérie, estreada em inícios dos anos 90. E esses nem serão os únicos parentes próximos de um filme devedor de outras versões para o grande ecrã da obra do mesmo autor (com "Conta Comigo" à cabeça) ou de mais tesourinhos dos anos 80 como "Os Goonies". Já para não referir, claro, a habitualmente comparada "Stranger Things", tanto por terem um actor em comum (Finn Wolfhard) como, e sobretudo, pelo misto nostálgico de drama juvenil e ficção científica. Por outro lado, a série da Netflix também já assumia uma devoção óbvia pelas histórias de Stephen King e não seria estranho encontrar "It" (o livro) entre seus pontos de partida.

 

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O filme-sensação da temporada até é substancialmente mais cru, conciso e arrojado do que a produção dos irmãos Duffer, ainda que o rótulo de terror possa levar alguns ao engano. Há tentativas de assustar, sim, mas as cenas com o palhaço Pennywise não estão entre as mais convincentes, embora Bill Skarsgård seja eficaz na construção do boneco diabólico.

 

Às tantas, as sequências de "jump scares" começam a parecer impostas num filme que respira bem melhor quando se concentra na dinâmica de um grupo de pré-adolescentes, aquelas onde o argumento de Cary Fukunaga (que esteve quase a assumir a realização), Chase Palmer e Gary Dauberman mais consegue fintar (ou pelo menos disfarçar) lugares comuns associados ao género.

 

"IT" vai ganhando um capital de simpatia apreciável ao acompanhar o dia-a-dia dos seus jovens protagonistas, "losers" (expressão repetida ao longo do filme) de uma pequena localidade norte-americana cujo contacto mais próximo os ajuda a ir superando medos individuais. Uma das características mais intrigantes do filme é, aliás, a forma como vai dando a ver os receios mais íntimos de cada um, movendo-se entre inquietações pessoais mas transmissíveis que desenham um quadro do lado árduo e desconcertante da adolescência.

 

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Só é pena que, ao longo desse mergulho nas personagens, o argumento acabe por não investir em todas de igual forma. Ao longo de pouco mais de duas horas, seria sempre difícil dar espessura a sete protagonistas, mas Mike e Stan só teriam a ganhar com mais tempo de antena - assim quase acabam reduzidos a representantes do jovem afro-americano e do jovem judeu, respectivamente. Ainda mais caricaturais são as figuras secundárias, dos pais a outros adolescentes (os bullies de serviço), mas esse contraste até acaba por jogar a favor da caracterização das principais, ao reforçar o seu isolamento, ao início, e espírito de entreajuda, mais para o fim - e reforça também o fosso geracional, decisivo para que a faceta sobrenatural funcione.

 

Apoiado num elenco de nomes praticamente desconhecidos, "IT" vale também como montra de alguns novos talentos que Hollywood não deve tardar a explorar. O casting feliz ajuda muito nos saltos de narrativas e atmosferas (além de drama e suspense, há espaço para o humor ou para um triângulo amoroso) e é essencial para que se sinta um coração a bater entre sequências por vezes um tanto mecânicas, periosamente próximas de demasiados blockbusters sem alma. Mas aqui não há mesmo nada a temer - como o final comovente comprova - e, por uma vez, isso nem é um defeito num (suposto) filme de terror.

 

3,5/5

 

 

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