Ainda boémios ao fim de todos estes anos
16 anos depois de "Bohemian Like You", os DANDY WARHOLS dificilmente terão direito a outros 15 minutos de fama. Um álbum como "DISTORTLAND" também não facilita muito, mesmo que seja o melhor do quarteto desde essa popularidade momentânea em grande escala.
O anterior "This Machine" (2012) já ameaçava e "DISTORTLAND" vem agora dar motivos para continuar a ouvir os Dandy Warhols depois de uma fase pouco estimulante - a que interrompeu o ciclo (subestimado) de quatro álbuns iniciais com acidentes de percurso como "Odditorium or Warlords of Mars" (2005) e "...Earth to the Dandy Warhols... (2008)".
Ao nono disco, o grupo de Portland está tão distante da surpresa dos primeiros tempos como do fenómeno em que ameaçou tornar-se quando um single foi dos temas mais ubíquos da viragem do milénio, graças a uma campanha de uma operadora de telemóveis. Mas não só "Bohemian Like You", apesar de contagiante, era pouco representativo de tudo o que a banda tinha para oferecer, como acabou por a remeter a um estatuto de one hit wonder - ou próximo disso, já que "Not If You Were the Last Junkie on Earth", antes, ou "We Used to Be Friends", depois, ainda despertaram algumas atenções.
Sem propor novos caminhos sonoros, e muito menos mediáticos, "DISTORTLAND" é quase um agregador das linguagens que os Dandy Warhols foram trabalhando ao longo de vários anos, da estreia discreta, em modo shoegaze e britpop, de "Dandys Rule OK" (1995), ao flirt entre folk mutante e psicadelismo do grandioso "Thirteen Tales from Urban Bohemia" (2000) ou ao reforço dos sintetizadores em "Welcome to the Monkey House" (2003). Pormenor importante: deixa de fora os intermináveis temas instrumentais que minaram os alinhamentos dos álbuns seguintes, e dessa concisão nasce uma colecção equilibrada de dez temas, quase todos inesperadamente directos.
Embora arranque e termine bem, o melhor do disco está no meio, na sequência "Catcher in the Rye"/ "STYGGO"/ "Give", com a banda ao nível dos seus dias mais inspirados. O segredo? Aí sabe tirar partido do óptimo e versátil vocalista que é Courtney Taylor-Taylor, capaz de ir do falsete a um tom grave mas que convence ainda mais quando fica entre ambos, em modo sussurrante, acompanhado por coros (sempre uma mais valia nas canções dos Dandy Warhols) e arranjos que reforçam o cruzamento de melancolia a luminosidade.
A produção, entre o eléctrico e o acústico, já vem de trás e é tão ou mais reconhecível em "Search Party" e "Doves", com texturas densas a contrastar com o rock escorreito de "Reverend Jim" e "All the Girls in London" (mais uma vez a comprovar a voz maleável/ocasionalmente esquizóide de Taylor-Taylor), o experimentalismo de "Semper Fidelis" ou a aproximação à new wave (escola The Cars) da orelhuda "You Are Killing Me", um single óbvio à espera de playlists.
A combinação de elementos parece mais direccionada a antigos seguidores do que a novos adeptos, mas pelo menos também é mais certeira do que em muitos anos. E acaba por levar a crer que "I'm too old for this shit", o último verso disparado pelo vocalista, não seja para levar a sério - mesmo que esta boémia seja cada vez mais só para alguns...