As filhas do rock
O rock morreu? A pergunta não é nova e já foram muitos a garantir ter visto a certidão de óbito, mas as SLEATER-KINNEY e as PUSSY RIOT responderão que não - provavelmente com um grito, embora não tão alto como noutros tempos.
As norte-americanas estão de volta com o oitavo álbum - o primeiro desde 2005 -, "No Cities to Love", que sem ter canções capazes de mudar o mundo tem sido suficiente para mudar (para melhor) o ano musical dos admiradores destas militantes riot grrrl. "It's not a new wave, it's just you and me", canta Corin Tucker no novo single, a dispensar grandes novidades sem abdicar de uma atitude incisiva com ritmo acelerado. Entre os fãs desta "A NEW WAVE" contam-se as personagens da série "Bob's Burgers", adeptas da festa em ambiente caseiro retratada no videoclip, com direito a viagens psicadélicas:
Mais surpreendente, a polémica dupla feminista russa deixa um manifesto invulgarmente contido, pelo menos na sonoridade. Em vez da estridência punk que as distinguiu, Maria Alyokhina e Nadezhda Tolokonnikova entram em 2015 com uma canção esparsa e atmosférica, cuja cadência lenta vai sendo dominada por sintetizadores (terão andado a ouvir os The Kills?). O acesso spoken word, lá para o final, é a alusão mais directa a Eric Gardner, um dos vários negros mortos recentemente pela polícia nova-iorquina, temática inspiradora de um single de protesto contra o terrorismo de Estado. "I CAN'T BREATHE" é também a primeira composição da banda em inglês, estreia acompanhada por um videoclip igualmente aconselhável, a conjugar simbolismo e minimalismo. As protagonistas podem acabar mortas e enterradas, mas a música mantém-se vibrante, como o melhor rock que ainda vai sobrevivendo: