Black magic woman
Quase quinze anos depois da edição de "Silent Alarm" (2005), já há distância temporal mais do que suficiente para assegurar que o maior contributo da discografia dos Bloc Party foi mesmo o registo de estreia. E se os últimos álbuns dos britânicos são particularmente esquecíveis, há uma luz que ainda não se apagou no caminho a solo de KELE Okereke, vocalista mais aventureiro em nome próprio do que ao lado da banda.
"The Boxer" (2010), "Trick" (2014) e sobretudo "Fatherland" (2017) podem não ser discos imprescindíveis, mas até os episódios menos vitais revelaram um desejo de experimentação louvável, que promete manter-se no próximo passo. "2042", o quarto álbum, chega a 8 de Novembro e dele já eram conhecidos "Jungle Bunny" e "Between Me and My Maker", ambos com a guitarra como motor e debruçados sobre tensões raciais e questões espirituais, respectivamente - temas que prometem dominar um alinhamento que aposta no multiculturalismo como resposta a um contexto político "assustador".
O novo single, no entanto, tira algum peso dos ombros na canção mais descontraída de KELE em muito tempo, com ritmo sincopado e contagiante, entre o dub e a new wave, enquanto deixa uma ode às mulheres negras de Londres. "A mulher negra é a figura mais incompreendida da sociedade de hoje e quis fazer algo que celebrasse a sua inteligência, sensualidade e magia", explicou à The FADER a propósito de "GUAVA RUBICON".
O cantor cede, por isso, o protagonismo a um casal de mulheres negras no videoclip, um retrato amoroso optimista. "Infelizmente esta é uma dinâmica que raramente vejo representada na cultura popular, por isso quis representá-la o melhor que pude", diz sobre o olhar urbano, intimista e despretensioso assinado por Lee Holmes: