Com super-heróis destes, quem precisa de supervilões?
"THE BOYS" regressa igual a si própria e muito diferente das outras aventuras de super-heróis do pequeno ecrã (e do grande também). À terceira temporada, a série da Prime Video ganha terreno entre as apostas certeiras da plataforma de streaming sem poupar ninguém ao cinismo, humor paródico e doses (ainda) mais generosas de gore.
Passam a correr, os três primeiros episódios da terceira temporada da série de Eric Kripke ("Supernatural", "Timeless") que adapta a BD de culto criada por Garth Ennis e Darick Robertson. Quando as gigantes Marvel e DC insistem em sequelas, prequelas e outras expansões muitas vezes tão repetitivas como exaustivas, a saga originária da Wildstorm que transitou para a Dynamite Entertainment mantém-se nos ecrãs com uma energia, ritmo e capacidade de surpresa invejáveis, mesmo que parte da sua transgressão já se tenha tornado familiar para os fãs.
O retrato do lado negro de supostos paladinos com muito pouco de heróico regressa imparável, e a disparar para várias direcções, com um olhar crítico que faz mira à perversão dos media e das redes sociais, à ascensão da extrema-direita ou aos vícios da cultura do cancelamento impulsionada por fenómenos como o #MeToo ou #BlackLivesMatter. Sem espaço para grandes subtilezas, é verdade, mas claramente a conquistar o seu lugar de entretenimento subversivo e cáustico (com direito a nomeação ao Emmy de Melhor Série Dramática no ano passado) enquanto desenha uma linha cada vez mais difusa entre heróis e vilões.
Quando a equipa de vigilantes que dá nome à série da Amazon opta por se focar nos fins à medida que vai desconsiderando os meios, os novos episódios reforçam a ambiguidade deste (super)jogo de poder e manipulação, já presente na primeira temporada, mais notória na segunda e a prometer atingir o ponto de ebulição nesta leva de oito capítulos.
Ainda assim, há coisas que não mudam: Homelander tem uma vantagem considerável no campeonato de calculismo e sadismo, boas notícias para quem encontra nas expressões faciais de Antony Starr um dos maiores deleites da série. Mas talvez não esteja sozinho enquanto ameaça particularmente temível quando entra em cena Soldier Boy (Jensen Ackles), uma versão distorcida do Capitão América, ainda pouco presente nos primeiros episódios mas particularmente aguardado por quem leu a BD.
A violência gráfica, no entanto, não surge sempre associada a jogadas dos supervilões, como o comprova uma cena de sexo de antologia (é legítimo assegurar que nunca se viu nada assim antes) logo no capítulo inicial desta temporada. Capaz de esticar os limites desbragados e sangrentos já de si extremos da saga, é uma união de gore e humor negro que marca o tom para o que se segue e recorda (para quem eventualmente se esquecesse) que esta não é uma história de super-heróis como as outras. Para o melhor e para o pior, já que alguns requintes de malvadez, passado o choque, começam a acusar algum cansaço. O melhor exemplo disso é o arco de The Deep (Chace Crawford), um contínuo de humilhação e grotesco gratuitos que tira tempo de antena a personagens mais intrigantes - sobretudo Queen Maeve (Dominique McElligott), quase esquecida nesta fase.
Depois da série de antologia de animação "The Boys Presents: Diabolical" (estreada em Março) ter explorado outros recantos deste universo com imaginação e arrojo - incluindo um episódio-chave para compreender Homelander -, é bom ver que o regresso à saga principal também entusiasma logo desde o arranque, iniciado com uma paródia irresistível às aventuras cinematográficas da Marvel e da DC (nem falta uma convidada de luxo). E pelo caminho, consolida a Prime Video enquanto serviço de streaming especialmente apetecível para quem procura sangue novo nas aventuras de super-heróis, ao albergar ainda a também revigorante "Invincible".
Os três primeiros episódios da terceira temporada de "THE BOYS" estão disponíveis na Prime Video desde 3 de Junho. A plataforma da Amazon estreia novos capítulos todas as sextas-feiras.