Da intervenção divina à confirmação do talento
Os PVA estrearam-se com um single literalmente divinal, nascido nos últimos dias de 2019: "Divine Intervention", cartão de apresentação produzido por Dan Carey, nome-chave da nova vida do pós-punk em anos recentes (as carreiras dos Fontaines D.C., black midi ou Black Country, New Road que o digam).
Entre a new wave e o dance punk, foi uma primeira amostra vibrante e angulosa, a acender o rastilho para um percurso que tem sido percorrido mais nos palcos (incluindo primeiras partes de concertos dos Shame, Dry Cleaning ou Goat Girl) do que nos discos. O EP "Toner", editado pela Ninja Tune na recta final de 2020, juntou aos elogios das actuações mais três temas que justificavam continuar a prestar atenção ao trio londrino, mas a maior prova gravada chega esta semana - na sexta-feira, 14 de Outubro.
"BLUSH", o muito aguardado primeiro álbum, vai ser decisivo para ajudar a banda a demarcar-se (ainda mais) de outros conterrâneos e contemporâneos inspirados pelo pós-punk, embora os singles já conhecidos insistam que há por aqui outros interesses - do industrial ao trip-hop, do electro à escola raver. Um caldeirão sonoro com os Portishead ou Laurie Anderson entre as influências assumidas e a ganhar sabor com o registo vocal tenso de Ella Harris e Josh Baxter (às vezes juntos, outras a solo), vocalistas que também se ocupam da composição, produção, guitarras e sintetizadores. A bateria e percussão ficam entregues (e bem) a Louis Satchell.
Até agora, há argumentos para esperar daqui um dos álbuns mais recompensadores da temporada. "Untethered", "Hero Man" e "Bunker" foram singles suficientemente convincentes mas "BAD DAD" talvez mereça menção especial, confirmando que "Divine Intervention" não foi um caso de sorte de principiante. Tão sombria como dançável, assente na voz sussurrante de Harris e em ritmos propulsivos, lembra os saudosos New Young Pony Club (fase "The Optimist") enquanto também dá conta da personalidade em construção de um nome a passar de promessa a certeza: