Da paz armada à pele de galinha
Há algo de podre nos Sete Reinos de Westeros e já não é de hoje. Mas o que surpreende no arranque da quarta temporada d'"A Guerra dos Tronos" (estreia em Portugal marcada para esta terça-feira, no Syfy) é o ambiente respirável, às vezes quase aprazível, depois de uma tragédia a deixar brindes de sangue num casamento. Em vez do tom pesadão de algumas fases da série, o primeiro episódio tira partido de diálogos afiados, tão espirituosos como truculentos, a espaços nas fronteiras da auto-paródia mas defendidos por um elenco que não falha uma nota. Não são propriamente uma novidade nestas aventuras, é certo, embora haja poucos episódios com esta concentração de tiradas corrosivas, sempre parte integrante das personagens e não meros truques de uma escrita espertinha.
As personagens são, aliás, um dos pilares da saga e compensam o formato digressivo e fragmentado da narrativa - que fará sentido numa temporada encarada como um todo mas pode prejudicar o acompanhamento semanal dos episódios. Este novo regresso decorre, no entanto, a um ritmo fluído e despachado, e mesmo quando há pouco tempo para alguma personagem nota-se que cada cena conta. Conta sobretudo para Tyrion e Jaime Lannister, até porque esta família tem aqui mais tempo de antena, mas Arya Stark fecha o episódio com um repasto memorável. Já o início dedica-se à imponente entrada em cena de Oberyn Martell, mais uma provável grande personagem (e interpretação de Pedro Pascal, na foto acima) com potencial para deixar um rasto de sexo e morte, dois elementos indispensáveis da série. O terceiro serão os dragões que, sim, estão bem e mais crescidos, ainda que a sua mãe hesite recomendá-los...