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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

The Dandy Warhols, 20 anos depois

Dandy_Warhols_1998

 

O segundo álbum dos DANDY WARHOLS é daqueles casos em que os singles enganaram. A celebrar 20 anos este Verão, o disco que teve "Not If You Were the Last Junkie on Earth", "Every Day Should Be a Holiday" e "Boys Better" como amostras especialmente mediáticas também contou, ao longo de um alinhamento que ultrapassou uma hora de duração, com um conjunto de canções bem mais ecléctico do que esse trio de indie pop contagiante e hedonista (que além de ser dos mais ouvidos do seu tempo - em parte devido à rotação constante em "Alternative Nation", da MTV - , guardou lugar entre os clássicos da banda de Portland).

 

Editado a 15 de Julho de 1997, "... THE DANDY WARHOLS COME DOWN" surgiu na ressaca do grunge e da britpop, e se chega a incorporar elementos de ambos (sobretudo da segunda escola), está a milhas das tendências electrónicas de fim de milénio cujo impacto levava alguns a decretar a morte do rock (mais uma vez, e não seria a última).

 

Come_Down

 

No ano em que "OK Computer" foi a bóia de salvação de muitos dos que ainda insistiam em agarrar-se às guitarras, o quarteto liderado por Courtney Taylo-Taylor não temeu ser mais anacrónico do que o grupo de Thom Yorke enquanto optou pelo humor e pela despretensão em vez da depressão pós-moderna sem fim à vista. O que não quer dizer que além da ironia de "Cool as Kim Deal""Hard on for Jesus" ou, claro, o já referido "Not If You Were the Last Junkie on Earth" (alguns títulos são todo um programa), não haja aqui espaço para episódios mais densos, e até inesperadamente melancólicos - confirmar no segmento que arranca na belíssima "Good Morning", ainda uma das canções mais perfeitas da banda, e segue por "Whipping Tree" e "Green".

 

Depois de uma estreia discreta mas promissora, com "Dandys Rule OK?" (1995), marcada por influências directas dos Ride ou dos Blur, recuando ainda até aos Jesus and Mary Chain ou Velvet Underground, este segundo passo travou algum peso shoegazer sem deixar de lado o psicadelismo, cruzando-o com outras referências díspares, do glam à new wave ("Every Day Should Be a Holiday", sempre irresistível, teria descendência óbvia no mais sintético "Welcome to the Monkey House", álbum de 2003).

 

A combinação de ingredientes só deixa reservas no final do alinhamento, com "Pete International Airport" e "The Creep Out" a apresentarem instrumentais longos e repetitivos, em ambiente drone, que infelizmente viriam a servir de molde para alguns dos discos mais auto-indulgentes do grupo (os da fase mais recente, exceptuando o regresso inspirado em "Distortland").

 

Dandy_Warhols_1997

 

Antes de lá chegar, no entanto, "... THE DANDY WARHOLS COME DOWN" é uma prova de vitalidade de uma banda mais interessada em experimentar e em divertir-se nesse processo do que em revolucionar o que quer que seja. E se a coesão instrumental é notável - tanto nos momentos mais intensos, a tirar partido do efeito wall of sound da produção, como nos mais contidos (caso de "Orange", a pedir audições repetidas até se infiltrar) -, boa parte do carisma também se deve a Courtey Taylor-Taylor, vocalista cuja versatilidade nunca foi tão reconhecida como merecia - não há muitos que se saiam tão bem entre um registo grave e agudo, entre o melancólico e o obstinadamente festivo.

 

"Thirteen Tales From Urban Bohemia", álbum editado três anos depois e catapultado por um single tão ubíquo como "Bohemian Like You", daria outra visibilidade aos Dandy Warhols, mesmo que também tenha levado muitos a arrumá-los (injustamente) na gaveta de one hit wonders. Mais conciso e polido, superou ligeiramente o antecessor, mas ainda assim "... THE DANDY WARHOLS COME DOWN" não só envelheceu muito bem como será, espera-se, um prato forte do regresso da banda a Portugal, já esta sexta-feira, 25 de Agosto, em Vilar de Mouros. Num festival particularmente nostálgico, a partir da 1h40 é hora de festejar como se fosse 1997.