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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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De uma estreia marcante à ressaca de uma pandemia

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Quase 30 anos depois de "Leftism" (1995), álbum que marcou a música de dança do seu tempo como poucos, os LEFTFIELD estão prestes a editar aquele que será apenas o seu quarto disco de originais. "This Is What We Do" vai chegar ainda em 2022, a 2 de Dezembro, e sucede ao interessante mas discreto "Alternative Light Source" (2015) - neste percurso, de resto, nenhum capítulo esteve perto de fazer sombra ao primeiro.

Conjunto de canções geradas na ressaca da pandemia, é também dos casos em que a sonoridade acaba por traduzir os efeitos do confinamento: seja o do trauma ou de um novo olhar sobre o amor, diversidade ou cura. E também traz ecos da vida pessoal de Neil Barnes, a metade da dupla britânica que faz parte do projecto desde o início (a outra é Adam Wren, que substituiu o cofundador Paul Daley em 2010). A ameaça de um cancro, o processo de divórcio e uma fase de depressão tiveram ressonância, avança a banda, num disco igualmente marcado pelo luto - em especial o de Andrew Weatherall, figura de proa da electrónica britânica dos anos 90 a quem o disco é dedicado.

This Is What We Do.jpg

Como todos os antecessores, "This Is What We Do" não dispensa colaborações. Earl Sixteen, vindo do reggae, volta a juntar-se aos londrinos depois de ter dado voz a um dos clássicos absolutos de "Leftism", "Release the Pressure". A ele juntam-se a escritora e poetisa Lemn Sissay e Grian Chatten, vocalista dos Fontaines D.C., autores de um dos melhores álbuns de guitarras do ano. Mas em "FULL WAY ROUND" o irlandês troca o rock e o pós-punk por ritmos que partem do breakbeat e que acomodam o seu spoken word imediatamente reconhecível.

Exemplo de tensão pós-milénio, o tema é o novo (e o mais aliciante) single de avanço do disco - depois de "Pulse" e "Accumulator", instrumentais propulsivos e eficazes -, deixando uma crónica do caos urbano que, mais do que os próprios LEFTFIELD, lembra alguns dos conterrâneos e colegas de geração do duo (dos Prodigy aos Underworld ou aos mais esquecidos Lo Fidelity Allstars). O videoclip propõe uma versão editada, mas também vale a pena ouvir a original.