Depois da tristeza infinita da adolescência, a noite escura da idade adulta
O fim do início? O início do fim? 20 anos depois, "ADORE" mantém-se entre os maiores momentos de viragem da história dos SMASHING PUMPKINS. E é certamente o mais subestimado.
Pouco depois de chegar aos escaparates, no Verão de 1998, o quarto álbum do grupo de Billy Corgan foi geralmente acolhido, no seu melhor, como uma curiosa nota de rodapé depois do opus "Mellon Collie and the Infinite Sadness". E no seu pior, enquanto disco que mostrou uma banda quase irreconhecível num álbum inesperadamente contido e sombrio. As reacções a quente até concediam uma vantagem considerável à segunda hipótese.
Foi um papel ingrato, esse, o de suceder aos discos que são apontados, de forma quase unânime, como obras-primas de uma das bandas mais vitais do rock dos anos 90: o famigerado e ambicioso álbum duplo de 1995 e o antecessor, "Siamese Dream", de 1993, ambos alianças inabaláveis entre banda, público e crítica.
Depois desses gritos da adolescência, os SMASHING PUMPKINS entraram sem aviso prévio na idade adulta num disco que, mais do que nascido de um Billy Corgan a olhar para o umbigo, o encontrava a lidar com o final do casamento e, de forma ainda mais angustiada, com a morte da mãe. Junte-se a isso o facto de "ADORE" ter sido gravado sem o baterista, Jimmy Chamberlin, e torna-se evidente que este é o álbum mais dominado pelos fantasmas do vocalista até então.
Não por acaso, a primeira (e até aqui) única aventura de Corgan a solo ("The Future Embrace", 2005) deve alguma coisa a estes ambientes menos efervescentes nos quais os sintetizadores vão ganhando espaço às guitarras - e quando estas se ouvem tendem para o formato acústico. A revolta de "Bullet With Butterfly Wings" não tem lugar aqui, apesar do acesso agreste de "Tear", e o deslumbramento maior do que a vida na linha de "Tonight Tonight" também fica por repetir, mesmo que haja espaço para os encantos (sóbrios) de "Once Upon a Time" ou "The Tale of Dusty and Pistol Pete".
"Perfect" surge como sequela (muito bem-vinda) da perfeição agridoce de "1979", é verdade, mas boa parte de "ADORE" faz-se da mágoa das belíssimas "Crestfallen", "Shame" ou "Blank Page", baladas nocturnas ao piano que convivem com a rispidez irrepetível de "Ava Adore" (um cartão de visita algo enganador), a vertigem melódica de "Daphne Descends" ou o mergulho na synthpop sonhadora de "Appels + Oranjes". Outro caso de excelência electrónica, "Pug" parece prosseguir de onde a surpreendente "Eye" (gravada para a banda sonora de "Estrada Perdida", de David Lynch) tinha ficado, terminando com um dos melhores remates de sempre da discografia do quarteto de Chicago (aqui reduzido a trio, mantendo James Iha na guitarra e D'arcy no baixo, ao lado do mentor do grupo).
20 anos volvidos, e sabendo da história dos SMASHING PUMPKINS entretanto, "ADORE" é mais do que um momento de viragem. Fica mesmo como o último momento de inspiração assinalável da banda, e com várias canções que até envelheceram melhor do que algumas das que estão para trás (até porque não foram sujeitas ao desgaste dos "clássicos"). O título não é nada descabido, a capa (sublime) também não engana: continua a estar aqui um dos grandes álbuns da década de 90.