Depois dos Sepultura, uma explosão de ruído entre Aphex Twin e os Motörhead
Numa noite de furor noise e ambientes pós-apocalípticos, os PETBRICK apresentaram o álbum de estreia no Musicbox, em Lisboa, na passada sexta-feira. E deixaram um concerto tão intenso como se esperava, embora algo limitado pela duração.
"É como se o Aphex Twin estivesse à luta com os Motörhead com doses elevadas de cafeína no corpo". Foi assim que os PETBRICK descreveram a sua música em entrevista ao Musicbox, antes de se terem estreado na sala lisboeta (e na capital), numa primeira visita a palcos portugueses - também actuaram no Maus Hábitos, no Porto, na quinta-feira.
O motivo foi a apresentação de "I" (2019), álbum que sucedeu ao EP "Pet Brick" (2018) e tornou mais séria a colaboração entre Iggor Cavalera (fundador e ex-baterista dos Sepultura, que passou também pelos Mixhell ou Soulwax) e Wayne Adams (Big Lad, Death Pedals), nascida de um cruzamento entre a percussão infernal do brasileiro e as descargas electrónicas do britânico. O encontro, já de si potente em disco, ganha outra força em palco, território que a dupla domina sem precisar de outras colaborações (as vozes foram pré-gravadas ou ficaram a cargo de Adams) nem de grande aparato cénico (o espectáculo assentou mesmo na entrega total dos músicos aos instrumentos).
Também não foram necessárias trocas de palavras com o público, já que os gritos ocasionais, algumas vozes em registo spoken word e o turbilhão instrumental ininterrupto marcaram uma actuação com tanto de experimental como de cinematográfico. Da diluição de fronteiras entre o noise, o industrial, o metal ou a música de dança surgiu uma muralha sónica que não destoaria num filme de ficção científica distópica, mais assente no confronto do que na harmonia dos dois músicos - quanto mais Cavalera insistiu em se entregar freneticamente à bateria, mais Adams respondeu com um metralhar de batidas, loops e camadas.
Este braço de ferro, que tanto podia encorajar o mosh de um concerto hardcore (na explosiva "Horse") como o hedonismo de uma rave a altas horas (na aura electro de "Coming"), teve como principal reacção o headbanging (ainda assim controlado) de alguns espectadores enquanto manteve a maioria intrigada com o efeito hipnótico da performance.
A descrição da banda não é enganadora: às vezes o resultado soou a uma eventual remistura de Aphex Twin a um tema dos Motörhead. Mas também lembrou a faceta mais rude e intempestiva de uns Ministry ou Nine Inch Nails ou as aventuras igualmente distorcidas dos Fuck Buttons (e do projecto paralelo Blanck Mass, que vai actuar no Musicbox em Fevereiro).
Infelizmente, a imponência da actuação acabou por ser traída pelo final abrupto, que limitou esta estreia dos PETBRICK a uns meros 45 minutos, sem direito a encore. Pouco para um concerto que já começou tarde, perto da meia-noite, e que não durou muito mais do que o da banda de abertura (os eficazes Krypto, power trio liderado pelo ex-Zen e Plus Ultra Gon, ao lado de Martelo e Chaka, que apresentaram o primeiro disco, "EYE18"). Valeu como pretexto para (re)descobrir um álbum promissor, mas tinha potencial para ser memorável...
3/5