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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Do campo de batalha ao conflito em alto-mar

Entre a antiguidade e a Segunda Guerra Mundial, em terra ou no mar, duas das boas séries do momento revisitam batalhas históricas - uma pode ver-se em streaming, outra é das melhores propostas televisivas.

Barbarians.jpg

"BARBARIANS" (T1), Netflix: A nova série alemã da plataforma de streaming é uma das suas apostas mais populares do ano e um bom convite ao binge-watching. Com apenas seis episódios, esta versão ficcionada do que levou a uma batalha histórica - a de Teutoburgo, que opôs tribos germânicas ao Império Romano no século IX a.C. - é uma saga de aventuras escorreita e empolgante, mesmo que não invente nada para quem está familiarizado com produções na linha de "The Last Kingdom" ou "Vikings" (com a qual partilha um dos realizadores, Steve Saint Leger). Ou ainda da também recente "Romulus", outro recuo à antiguidade em modo bélico.

Mas "Barbarians" até tem um trio de protagonistas mais carismático do que os dessa série da concorrente HBO Portugal: a guerreira germânica Thusnelda, o seu companheiro Folkwin, igualmente destemido (uma das personagens fictícias da trama), e Armínio, amigo de infância destes, criado pelos romanos e a figura mais ambivalente desta história (defendida por um dos desempenhos mais fortes, a cargo do austríaco Laurence Rupp).

Falada em alemão e em latim, esta criação de Andreas Heckmann, Arne Nolting e Jan Martin Scharf tem outras singularidades no esmero da direcção artística e guarda-roupa (sobretudo das comunidades tribais) e é abrilhantada pela direcção de fotografia de Christian Stangassinger (em especial nas cenas nocturnas iluminadas pelo fogo), opções estéticas que compensam alguns lugares comuns do argumento. E o último episódio confirma que os autores e realizadores têm estofo para moldar uma grande batalha, ainda que numa escala mais modesta do que as de marcos televisivos como "A Guerra dos Tronos". Venha então a segunda temporada, já confirmada.

3/5

Das Boot T2.jpg

"DAS BOOT" (T2), Sky One/AMC (e disponível na íntegra na aplicação do MEO): Apesar do título, a segunda temporada da série alemã inspirada no filme homónimo de Wolfgang Petersen não decorre só no alto-mar, sendo ainda mais expansiva do que a primeira. Desta vez, além do oceano Atlântico e de La Rochelle, localidade francesa ocupada pelo exército nazi, a acção estende-se até Nova Iorque e alarga o olhar à segregação de afro-americanos e à popularidade crescente do jazz.

Felizmente, a equipa de argumentistas não perde o norte e consegue equilibrar novos e velhos cenários e personagens, valorizando um elenco vasto e internacional e um retrato de grande fôlego narrativo. Embora se sinta falta da presença regular de Vicky Krieps, um dos pilares da primeira temporada que tem agora uma participação reduzida, Fleur Geffrier é uma substituição à altura na pele de Margot Bostal, personagem que passa de secundária a uma das principais e é um exemplo de garra e insubmissão enquanto rosto da resistência aliada francesa durante a Segunda Guerra Mundial.

Clemens Schick, outro dos novos protagonistas, ajuda a tornar Johannes von Reinhartz um capitão longe de estereótipos de caracterização nazis, o que aliás acontece com outras figuras desta disputa: de Klaus Hoffmann (Rick Okon), a questionar a sua lealdade durante a chegada aos EUA, ou até Hagen Forster (Tom Wlaschiha), com uma devoção cada vez menos cega aos ideais (e sobretudo aos métodos) da facção alemã. Mas a humanização das forças nazis tem limites: que o diga Stefan Konarske, sempre frio e calculista no papel de Ulrich Wrangel, oficial fidelíssimo a Hitler e outra presença forte de uma segunda temporada que duplica o número de embarcações no centro da acção (a nova fase deveria chamar-se "Os Submarinos") e também oferece mais e às vezes melhor do que a anterior noutros aspectos. Só faltou deixar claro se este relato acaba aqui ou se há mais capítulos a caminho...

3,5/5