E se descobríssemos a nossa alma gémea através de um teste científico?
Aplicações de encontros como o Tinder ou o Grindr podem ter a sua utilidade, mas a descoberta no centro da nova série do AMC eleva a fasquia. "SOULMATES" garante que o amor está à distância de um teste e explora essa realidade em seis histórias conjugais sem ligação entre si além da premissa.
Qualquer semelhança com "Black Mirror" não será pura coincidência: um dos autores de "SOULMATES" é William Bridges, argumentista de um dos melhores episódios dessa série, o brilhante "USS Callister", e também de um dos mais controversos, "Shut Up and Dance".
Criada a meias com Brett Goldstein ("Ted Lasso", "Superbob"), a nova aposta do AMC na ficção científica também desperta a atenção pelo elenco, que inclui gente como Bill Skarsgård ("It"), Sarah Snook ("Succession"), Charlie Heaton ("Stranger Things") ou Betsy Brandt ("Breaking Bad"), e pela realização, com dois episódios a cargo de Marco Kreuzpaintner (autor da série "Beat" e do filme "O Caso Collini", ambos aconselháveis).
Situada num futuro próximo, a uma distância de 15 anos, a primeira temporada da série de antologia centra-se em seis histórias que partem da mesma premissa, abordada em cenários diferentes: e se fosse possível saber quem é a nossa cara metade através de um teste científico?
É uma questão a que "Black Mirror" nunca chegou a responder, mas na qual "Watershed", o primeiro episódio de "SOULMATES", se debruça como se fosse um derivado dessa produção da Netflix. Só que não ficaria propriamente entre os seus capítulos mais icónicos: sendo um arranque razoável, sobressai mais pelo ponto de partida do que pela forma como o trabalha, ao seguir o quotidiano de uma mulher casada (uma Sarah Snook tão convincente como se esperaria) que vai alimentando a curiosidade em fazer o teste apesar de ter uma relação até então feliz e estável.
Além do casal principal, este primeiro capítulo vai dando conta de relacionamentos que nasceram dos muitos encontros de alegadas almas gémeas, aparentemente bem sucedidos, o que apenas alimenta a hesitação e inquietação da protagonista. Mas se o espectador poderá ficar tentado a fazer o mesmo exercício e até a identificar-se com a ansiedade que a vai corroendo, "Watershed" nunca chega a desviar-se para territórios realmente surpreendentes e muito menos transgressores. Pelo contrário, o final, ou pelo menos parte dele, até acaba por ser bastante previsível, além de não ter um peso dramático tão substancial como este retrato permitiria. E assim, por agora, "SOULMATES" deixa no ar a dúvida de que esta premissa seja suficiente para alimentar não só os seis episódios desta temporada, ainda que estejam prometidas variações, mas também uma segunda época, já garantida. Neste caso, como noutros, ainda não há teste para saber: só mesmo vendo.
"SOULMATES" estreou-se a 11 de Novembro no AMC e é emitida às quarta-feiras, a partir das 22h10.