Entre os novos caminhos (e desvios) da folk
Dois videoclips, revelados esta semana, fazem aumentar a expectativa em torno de dois álbuns agendados para os próximos meses. Ambos são assinados por cantautoras norte-americanas que, embora atirem neuroses e angústias para as suas canções, dificilmente poderiam fazê-lo de forma mais contrastante - pelo menos a julgar por estas amostras.
Marissa Nadler chegou a desistir da música e até vendeu os seus instrumentos, mas uma última tentativa repentina de continuar levou a que "July" se concretizasse, como explica numa entrevista recente. E ainda bem, porque apesar de os últimos anos terem revelado várias vozes femininas com ligações à folk, poucas se mostraram tão expressivas e prolíficas.
O novo álbum chega a 4 de Fevereiro e é já o sétimo de uma discografia iniciada em 2004. É também, segundo a própria, um dos seus discos mais negros, não tanto por contar com Randall Dunn, um produtor de black metal, mas por retratar um ano tumultuoso - de Julho a Julho, daí o título -, entre uma separação e reconciliação amorosa ou a difícil gestão de carreira. Os fantasmas pessoais resultaram num sopro criativo capaz de canções perfeitas como a belíssima "Desire" ou de um primeiro avanço mais comedido como esta "Dead City Emily":
Erika M. Anderson, ou EMA, também mostrou algumas ligações à folk (de tom mais agreste) no seu álbum de estreia a solo, "Past Life Martyred Saints" (2011), uma das melhores surpresas dos últimos anos - apresentada num pequeno grande concerto em Lisboa, no Mexefest. Mas "The Future's Void" pode já ser outra coisa, mais caótica e distorcida, como o sugere o single "Satellites", acumulação de drones, batidas industriais e voz operática.
O rumo não é completamente inesperado, tendo em conta o passado noise da cantautora ao lado dos Gowns, e talvez por isso estas pistas entre os Nine Inch Nails e Planningtorock funcionem tão bem - uma suspeita a confirmar a 7 de Abril, data de edição do disco. A canção já era conhecida há algumas semanas mas o videoclip, teatral e intempestivo como convém, dá o quadro completo deste concentrado de paranóia (sim, o gatinho do thumbnail é enganador):