Filmes entre a deriva, o prazer ou a perda (e também há uma Joker trans)
Mais de 100 filmes vão passar pelo Cinema São Jorge e pela Cinemateca na 28.ª edição do QUEER LISBOA, de 20 a 28 de Setembro. Uma sessão de curtas de entrada livre e cinco longas recentes destacam-se como sugestões iniciais.
O festival de cinema mais antigo da capital está de volta e continua focado na temática gay, lésbica, bissexual, transgénero, transexual, intersexo e de outras sexualidades e identidades não-normativas. Este ano, alarga o foco às assimetrias sociais, aos conflitos no mundo e a um cinema de urgência.
Ao longo de nove dias, o QUEER LISBOA propõe dezenas de curtas e longas-metragens, entre a ficção, o documentário e formatos de categorização menos óbvia através de secções que o público habitual já reconhecerá, das competitivas à Queer Art, Panorama ou Hard Night, além de debates, festas e uma exposição.
Embora grande parte da programação se concentre em novidades, há uma retrospectiva dedicada ao norte-americano William E. Jones, artista multidisciplinar e experimental cuja obra inclui olhares sobre a Guerra Fria, a pornografia gay ou os primeiros anos da sida nos EUA.
Já da secção Queer Focus, dedicada à resistência queer (em fronteiras, zonas de conflito, países sob ataque, territórios divididos ou ocupados, ou estados governados pela extrema-direita, do leste europeu e Médio Oriente, focando a realidade vivida pelas populações e comunidades LGBTQI+), vale a pena marcar na agenda a sessão de entrada livre no dia 26, às 18h00, na Sala 2 do São Jorge, com quatro curtas: "A'lam", do palestiniano Saleh Saadi; "Buffer Zone", do cipriota Savvas Stavrou; "Four Pills at Night", do kosovar Leart Rama; e "It's a Date", da ucraniana Nadia Parfan.
Das longas, as cinco abaixo também prometem ser apostas ganhas desta edição:
"BABY", de Marcelo Caetano: A sessão de abertura deste ano fica a cargo do sucessor de "Corpo Eléctrico", um dos filmes mais vibrantes do Queer Lisboa em 2017. Segunda longa-metragem de um realizador brasileiro que começou por se afirmar nas curtas, acompanha um jovem recém-saído de um centro de detenção juvenil, em São Paulo, que se aproxima de um homem mais velho. Além da colaboração no trabalho sexual e no tráfico de droga, surge entre ambos uma cumplicidade tornada centro dramático do retrato que valeu a Ricardo Teodoro o Prémio de Melhor Actor Revelação em Cannes, este ano. E tanto ele como o realizador estarão presentes na primeira das duas exibições do filme.
Sexta, 20 de Setembro, às 21h00, e sábado, 21 de Setembro, às 16h00, no Cinema São Jorge - Sala Manoel de Oliveira
"DRIFT", de Anthony Chen: Mesmo que nem tenha outros méritos, este drama já merecerá alguma atenção por juntar duas actrizes habitualmente confiáveis: Cynthia Erivo (que veio do teatro e começou no cinema com "Viúvas" e "Sete Estranhos no El Royale") e Alia Shawkat (nome-chave de "Arrested Development" e parte do elenco de "Um Sinal Secreto", de Zoë Kravitz, em cartaz). Mas também é das obras mais recentes de um realizador de Singapura cujo percurso tem sido elogiado desde a sua primeira longa-metragem, "Ilo Ilo" (2013), e que se concentra aqui no encontro entre duas mulheres numa estância balnear grega, a colocar em jogo formas de ver a vida, traumas passados e conflitos de classe.
Sábado, 21 de Setembro, às 19h00, no Cinema São Jorge - Sala Manoel de Oliveira
"EL PLACER ES MÍO", de Sacha Amaral: Primeira longa-metragem de um realizador brasileiro radicado na Argentina e autor de várias curtas, este olhar sobre a entrada na idade adulta é a crónica do quotidiano incerto de um rapaz de 20 anos em Buenos Aires, entregue a pequenos roubos e enganos. Mas uma viagem rumo ao sul, motivada pela mãe, com quem mantém uma relação tensa, pode trazer-lhe um novo caminho. Sugerindo um tom tão realista quanto moralmente ambíguo, e juntando a esperança Max Suen à veterana Katja Alemann, pode estar aqui uma das surpresas desta edição (até porque todos os anos há quase sempre algumas vindas da América do Sul).
Terça, 24 de Setembro, às 22h00, no Cinema São Jorge - Sala Manoel de Oliveira
"ALL SHALL BE WELL", de Ray Yeung: O autor do belo e sóbrio "Suk Suk", que passou pelo Queer Porto há três anos, volta a debruçar-se sobre a terceira idade, mas desta vez no feminino. E agora com um relato do luto, ao seguir como uma mulher lida não só com a morte da companheira de décadas mas também com a família desta - e em especial, a sua disputa para manter a casa. Presidente do Hong Kong Lesbian and Gay Film Festival desde 2000, o realizador tem sido uma das principais vozes queer do cinema asiático e o seu novo drama chega com aplausos do Festival de Berlim, que o premiou com o Teddy de Melhor Longa-Metragem este ano.
Quarta, 25 de Setembro, às 19h00, no Cinema São Jorge - Sala Manoel de Oliveira
"THE PEOPLE'S JOKER", de Vera Drew: E se Joker fosse o verdadeiro protector de Gotham City? Esta é apenas uma das variações dos códigos do arqui-inimigo de Batman propostas pela mistura inusitada de imagem real e animação, entre o drama e a paródia, do primeiro filme de uma realizadora que começou no pequeno ecrã e tem um percurso mais regular como montadora. Subvertendo o imaginário dos super-heróis (e supervilões) para partilhar a sua experiência trans, a norte-americana dirige, escreve e protagoniza este exemplo de cinema do-it-yourself de espírito anarca e com gente como Lynn Downey, Bob Odenkirk ou Tim Heidecker entre os cúmplices.
Sexta, 27 de Setembro, às 18h30, no Cinema São Jorge - Sala 3