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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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Fundo de catálogo (113): Marina and the Diamonds

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Dez anos depois da edição, "THE FAMILY JEWELS" não só mostra que é um álbum que envelheceu bem como se destaca, com alguma distância, enquanto jóia da coroa da discografia de MARINA AND THE DIAMONDS. Fazem(-lhe) falta mais destes.

Depois de Florence and the Machine, La Roux ou Little Boots terem editado discos de estreia no ano anterior, Marina Diamandis apostou no formato longa-duração no início de 2010 e deixou mais um contributo para uma colheita refrescante e idiossincrática de pop no feminino, frequentemente em terreno electrónico e com influências claras de nomes dos anos 80. Ao lado de Florence Welch, a galesa propôs um dos conjuntos de canções mais teatrais e exuberantes, mas não se levou tão a sério como a voz de "Dog Days are Over" e fez mais vezes mira às pistas.

Apesar do apelo dançável, as letras não se esgotaram na celebração do hedonismo e apresentaram alguns dos retratos mais incisivos, singulares e espirituosos desse tempo em cenário pop, onde tanto cabiam as inevitáveis reflexões sobre relacionamentos amorosos mas também um mergulho interior e existencial ou farpas à obsessão pela fama e tentações consumistas.

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Teclados, sintetizadores e arranjos de cordas sobressaíram entre as camadas de uma produção barroca, manta instrumental para a voz imponente e maleável de Diamandis, com maneirismos a sugerir audições atentas de Kate Bush, Tori Amos ou Leve Lovich. O alinhamento, que contou com Liam Howe (ex-Sneaker Pimps), Greg Kurstin ou Starsmith na equipa de produtores, não defraudou a promessa de "The Crown Jewels EP" (2009) nem os sinais de confiança da BBC Poll of 2010 ou dos BRIT Awards (cuja nomeação para o Critics' Choice Award ajudou a despertar as primeiras atenções).

Singles como "Shampain", "Oh No!" ou "Hollywood" foram exemplos eloquentes de uma pop tão borbulhante como irónica, "I Am Not a Robot" mostrou que também havia por aqui uma sensibilidade melancólica, que passaria ainda por "Numb" ou "Rootless", e "The Outsider" e "Hermit the Frog" são talvez as duas jóias mais esquecidas - a primeira um hino sobre a diferença nascido da new wave, a segunda a mostrar que a distância entre as arábias e o cabaret pode ser curta, naquele que é talvez o pico de criatividade e delírio desta estreia.

"Electra Heart" (2012), o álbum sucessor, alargou o jogo entre realidade e ilusão, embora poucas canções tenham estado à altura da ambição conceptual. E se "FROOT" (2015) reacendeu a chama com alguns momentos de inspiração ao nível dos primeiros tempos, "Love + Fear" (2019) foi um quarto disco tão demorado como anémico, e já com a sua autora a editar apenas como MARINA. Decididamente, e como "The Family Jewels" tão bem comprova, os diamantes não deveriam ter deixado de ser os seus melhores amigos.