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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Fundo de catálogo (109): Massive Attack

Mezzanine

 

Poucas bandas poderão orgulhar-se de ter começado e terminado a década de 90 como os MASSIVE ATTACK. Aliás, não há mesmo mais nenhuma que se tenha estreado com um disco que abriu portas para o que viria ser conhecido como trip-hop, fazendo depois ao terceiro álbum, "MEZZANINE" (1998), uma viragem que marcou o último grande momento do género.

Se antes do influente "Blue Lines" (1991) já os Soul II Soul ou Neneh Cherry tinham atirado dub, soul, R&B ou funk para o mesmo caldeirão, os territórios explorados no final da década impõem-se, à distância de 20 anos, como os mais desafiantes já percorridos pelo grupo de Bristol.

Depois de um episódio pouco memorável, de evolução na continuidade, como "Protection" (1994) - apesar do magnetismo da faixa-título ou de "Karmakoma" -, a obra-prima de Robert "3D" Del Naja, Grant "Daddy G" Marshall e Andy "Mushroom" Vowles (que entretanto abandonou o projecto) chegaria ao terceiro capítulo, um concentrado de tensão de fim de milénio captado de forma quase sempre implosiva - e mais claustrofóbica do que nunca.

Massive Attack 1998

O compasso dopado e periclitante de "Angel" assinala o arranque de um alinhamento com uma carga cinematográfica inegável (muitas bandas sonoras de filmes, séries e publicidade agradeceram) e do qual é difícil eleger pontos altos quando a média anda pela excelência: na composição, na produção, nos ambientes e texturas desenhados e nas vozes convocadas (do habitual Horace Andy, da desconhecida Sara Jay e de Elisabeth Fraser, com a musa dos Cocteau Twins a adaptar-se sem dificuldades a outro universo dominado pela estranheza).

Talvez só "Black Milk" e "Exchange" (com direito a encore no final), os dois temas menos tensos, fiquem aquém do brilhantismo geral de "MEZZANINE", nascido de uma alquimia tão envolvente como opressiva de electrónica e guitarras. Estas últimas, um ingrediente até então pouco habitual na música dos MASSIVE ATTACK - embora dominante em discos do antigo colaborador Tricky -, são também a faceta mais evidente de ecos do rock, do pós-punk e de domínios industriais (The Cure, samplados em "Man Next Door", ajudam a decorar o cenário inóspito).

Da sequência inicial, forrada de singles clássicos (ao já referido "Angel" seguem-se "Risingson", "Teardrop" e "Inertia Creeps"), até ao desfecho com o crescendo sufocante a cargo de um improvável duo ele & ela (Del Naja e Fraser), em "Group Four", continua a estar aqui um dos grandes álbuns não só de 1998 mas de toda a década de 90. Não admira que, depois de musicalmente tão marcante, também tenha celebrado os 20 anos tornando-se pioneiro no campo científico.

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