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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Gestores e estagiários (e todo o dinheiro do mundo)

Um grupo de jovens millennials tem de mostrar o que vale e garantir um primeiro emprego no mundo da alta finança. Esta é a premissa de "INDUSTRY", a nova série britânica da HBO Portugal, que arranca com uma conjugação vibrante dos dilemas da entrada na idade adulta e de uma vida profissional sem horário de saída.

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Não é preciso ter-se grande familiaridade com as realidades e jargão do mercado financeiro para espreitar o drama criado por Mickey Down e Konrad Kay, dupla que se estreia como autora e showrunner depois de um percurso ainda curto na realização, escrita e produção (iniciado em 2014 com a comédia "Gregor", que passou despercebida).

É certo que "INDUSTRY" conta com alguns diálogos sobre temas demasiado específicos e certamente herméticos para espectadores que não tenham, pelo menos, o Financial Times nas leituras de cabeceira, mas apesar deles os autores conseguem tornar este quotidiano num banco de investimento internacional londrino numa experiência transmissível e até imersiva - isto a julgar pelos primeiros dois episódios, os únicos já estreados de uma temporada de oito.

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Mais do que números, a aposta britânica tem em vista os mecanismos das hierarquias e jogos de poder, com ramificações várias, e o papel que os conflitos de classe, raça ou género desempenham num dia-a-dia de contactos acelerados e novos empregados esmifrados. A série concentra o olhar num grupo de jovens recrutas, acabados de sair da faculdade e todos oriundos de contextos diferentes, com o foco a direccionar-se para uma afro-americana que inicia uma nova vida no muito disputado centro de Londres.

Mas a protagonista não é exactamente quem diz ser, com um currículo falsificado a ficar entre os entraves iniciais à simpatia total do espectador (o que não é um problema, ao torná-la mais intrigante). As outras personagens também se mostram contraditórias à medida que a excelência que tentam obter na vida profissional não vai tendo correspondência na pessoal - ou no que sobra dela quando a fronteira entre o trabalho e o lazer é ténue, cenário que leva a uma das situações mais abruptas e angustiantes do episódio piloto.

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"INDUSTRY" arranca a partir de alguns elementos reconhecíveis - não falta a estagiária condenada a ir buscar cafés, ou mais habitualmente refeições, nem o novato mais workaholic dos workaholics -, mas deixa uma primeira impressão na qual a espontaneidade ganha ao formulaico. E para isso talvez ajude a colaboração de Lena Dunham, realizadora do primeiro episódio, que acaba por dar o tom à série. Um tom desenvolto, às vezes frenético (a banda sonora electrónica ajuda na descarga de adrenalina), às vezes também desnecessariamente palavroso, e com alguma da sensibilidade despudorada de "Girls" (a nudez ou a crueza das cenas de sexo estão longe de ser um tabu, relacionamentos fortuitos e eventualmente frívolos também).

A frescura alarga-se ao elenco, que dá prioridade a várias caras novas (e prometedoras) nos papéis principais, bem secundadas por nomes mais experientes como Ken Leung ("Lost"), Will Tudor ("Humans") ou Freya Mavor ("Skins"). E tendo em conta esta eficácia, vincada por uma inspiração apreciável, é difícil não fechar contrato com "INDUSTRY" depois do estágio de dois episódios.

"INDUSTRY" está disponível na HBO Portugal desde 10 de Novembro e conta com episódios novos às terças-feiras.