Há algo de envolvente no reino da Dinamarca
Um dos regressos do ano a celebrar ficou a cargo de AGNES OBEL, que ao quarto álbum aprimorou qualidades que fazem dela uma cantautora a ter por perto. "Myopia" é um disco hipnótico tanto pela composição como pela produção, ambas a valorizarem uma voz tão capaz de confortar como de inquietar. E a segunda vertente talvez saia a ganhar nas novas canções, algumas das mais soturnas - ou até sinistras - do catálogo desta dinamarquesa radicada em Berlim.
As doses reforçadas de negrume não serão muito surpreendentes tendo em conta que Edgar Allan Poe ou Alfred Hitchcok estão entre as referências de uma obra que também deve muito à música clássica ou à folk, de Claude Debussy a Joni Mitchell. À aura gótica, a fase mais recente acrescentou um interesse pela manipulação vocal, enriquecendo o jogo de texturas de um alinhamento atmosférico e enigmático que mantém esse efeito no salto para o palco. Ou pelo menos é o que sugerem as versões ao vivo de alguns temas apresentadas na sala National Sawdust, em Brooklyn, no início do ano, com uma atenção aos arranjos tão minuciosa como no disco.
A alquimia de piano, cordas ou percussão, garantida por uma banda de três elementos, ajudará a explicar porque é que OBEL foi convidada para acompanhar os Dead Can Dance na sua digressão actual e leva a pedir que os promotores nacionais também se lembrem dela para um regresso a salas portuguesas em 2021 - até porque tem várias datas agendadas para cidades europeias ao longo do próximo Verão. Até lá, teremos sempre o precioso recurso ao arquivo virtual de actuações como a nova-iorquina, a ver e ouvir nos vídeos abaixo: