História da avozinha (para a geração Skype)
Além de marcar o regresso à forma de M. Night Shyamalan, "A VISITA" é um dos grandes divertimentos a passar pelas salas este ano. E esse lado lúdico não se mostra nada incompatível, antes pelo contrário, com o filme de terror que esta proposta também é.
Shyamalan, volta que estás perdoado por "O Último Airbender" e "Depois da Terra" (e, para alguns, os mal acolhidos mas interessantes "A Senhora da Água" e "O Acontecimento")? Depois de ver "A VISITA", será difícil não saudar o cineasta que foi tão aplaudido na viragem do milénio como apupado e quase esquecido poucos anos depois.
Longe das grandes produções que dominaram as suas últimas obras, o indiano radicado nos EUA sai-se agora com um filme inesperadamente modesto nos meios, sem nomes sonantes no elenco e até a dispensar conceitos tão ambiciosos e singulares como os de outros tempos - do sobrevalorizado "O Sexto Sentido" ao tremendo "A Vila".
A premissa é simples - dois irmãos adolescentes vão visitar os avós que nunca conheceram, esperando reconciliá-los com a mãe - e a execução sabe tirar partido de um cruzamento de imaginários - dos contos infantis aos clássicos da casa amaldiçoada - tornando a contenção de recursos numa porta aberta para a imaginação.
A aposta no found footage, modelo a acusar esgotamento em filões como "Actividade Paranormal" e afins, revela-se aqui estratégica para construir uma atmosfera de nervoso miudinho, alguns sustos bem orquestrados e, mais do que isso, equacionar os mecanismos do cinema e os limites entre a percepção e o voyeurismo, deixando ainda um olhar ambíguo sobre as formas de comunicação modernas (e uma cultura jovem dependente de telemóveis e internet).
Não por acaso, a protagonista é aspirante a realizadora e um eco óbvio de algumas considerações éticas e formais de Shyamalan, mas felizmente não se limita a ser uma cabeça falante e existe enquanto personagem. Aliás, sem a química dela com o irmão, "A VISITA" perderia grande parte do seu efeito, já que deve à dupla muita da sua empatia, atrevimento e risco.
Além do talento do cineasta, reconheça-se o das revelações Olivia DeJonge e Ed Oxenbould, este último hilariante (as referências a cantoras pop são de antologia) e instigador dos momentos mais cómicos de um filme que consegue inquietar logo a seguir a esses - um equilíbrio difícil, mas aqui gerido com um savoir faire em falta noutras propostas do género recentes.
Se às vezes, sobretudo pelas cenas com a protagonista, o tom arrisca ser demasiado irónico e auto-consciente, quase presunçoso, essa faceta vai dando lugar a uma vertente dramática - mais pela relação dos miúdos com os pais do que com os avós - muito bem rematada num final que consegue ir a todas sem nunca trair o espectador nem os protagonistas (e no qual o twist, quase inevitável em Shyamalan, só funciona porque o drama familiar, tão ou mais caro ao realizador, também está bem alicerçado).
Quem procurar aqui outro "A Vila" ou "O Protegido" vai ao engano: este é claramente outro campeonato, com outros resultados em vista. Mas dentro das balizas que estabelece, "A VISITA" é mesmo o triunfo de Shyamalan que já fazia falta há uns anos.
4/5