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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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Juventude em marcha

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"OS COMBATENTES" chega às salas nacionais com uma colecção de referências mais do que simpáticas - soma quatro Césares entre as distinções - e não é difícil perceber porquê. A primeira obra de Thomas Cailley mostra uma frescura assinalável ao agarrar o tema da difícil entrada na idade adulta, seguindo a relação inicialmente conflituosa de dois adolescentes de uma pequena localidade francesa.

 

Arnau, que abandonou os estudos para se dedicar ao negócio de carpintaria da família, tem em Madeleine o abanão decisivo para sair do marasmo, acabando por acompanhá-la num estágio militar de Verão. E entre a complacência dele e a impulsividade dela a combinação de drama e comédia, leve mas não leviana, vai desenhando um estudo de personagens que é também um retrato de uma geração em permanente modo de preparação para o futuro. Se para Arnau o que aí vem é incerto, Madeleine não tem dúvidas: o melhor é esperar o pior e apostar num treino capaz de fintar o destino.

 

Cailley está longe de pisar território virgem mas parece rever-se na protagonista pela forma como conduz a narrativa. Também ele quer fintar as expectativas do espectador, sejam em relação aos modelos do romance juvenil com aprendizagem emocional incluída, do filme militar ou até da ficção científica apocalíptica. E consegue-o sem esticar a plausibilidade de um relato justo, luminoso e contagiante, mesmo que o final, literalmente mais sombrio, se aproveite de algumas coincidências (ainda assim, sabe como dar a volta à tentadora lógica moralista do conselho "cuidado com aquilo que desejas").

 

Se o realizador entra para a lista de nomes a acompanhar, pela forma como conjuga entusiasmo, desencanto e languidez, a energia dos actores não é menos determinante. A química entre Adèle Haenel e Kévin Azaïs, eléctrica logo à primeira troca de olhares (e de empurrões ou mordidelas), revela-se essencial para elevar o filme e acentuar o realismo das situações. A inversão dos estereótipos de género é mais uma opção astuta, bem defendida pela dupla, e a banda sonora electrónica (Vitalic, Yuksek, Hit+Run) ajuda a embalar a aventura sem exagerar na adrenalina - porque apesar da irreverência, está aqui uma primeira obra com sensibilidade e bom senso.